Centenário do nascimento de Amílcar Cabral sem comemorações oficiais na Guiné-Bissau
SOURCE: [Radio France Internationale]
Perguntámos ao economista guineense Carlos Lopes.como regia ao facto de não haver comemorações oficiais na terra natal de Amílcar Cabral ao centenário do nascimento de um dos maiores líderes africanos do século XX.
Este admite sentir muita tristeza por isso.
Com muita tristeza. Penso que Cabral merecia um reconhecimento que fosse para além de cerimónias oficiais, mas elas também são importantes. Devo manifestar a minha estranheza: até o próprio Ministério das Relações Exteriores de Angola vai fazer um colóquio especial sobre o Cabral. E o Governo da Guiné-Bissau não ter nada do género. Eu acho que é uma interpretação de que Cabral, não sendo jamais um personagem partidário, mas sim um símbolo nacional, tem que ser objecto da simbologia do Estado em detrimento de outros tipos de manifestações, o que é absolutamente absurdo.
Mas há uma outra dificuldade, que é a de aceitar de que o legado de Cabral tem uma certa profundidade para a definição da identidade guineense. Isto tem a ver com justamente aquilo que se denuncia. E aí está o paradoxo de dizer que Cabral não é uma figura partidária, mas depois querer reduzir o seu legado ao tipo de conquistas que ele fez e que ele esteve associado à índole partidária. Cabral fez parte de um processo de libertação nacional através de um movimento de um partido e agora ele é responsável desse legado e dessa participação até o momento da sua morte e não depois.
Amílcar Cabral nasceu em Bafatá, leste da então Guiné portuguesa a 12 de Setembro de 1924, viria a ser assassinado em Conacri, em circunstâncias ainda envoltas em mistério, a 20 de Janeiro de 1973.
Sob a batuta deste engenheiro agrónomo foi esboçada a estratégia do PAIGC (Partido africano para a independência da Guiné e Cabo Verde) que culminaria com a proclamação da independência a 24 de Setembro de 1973.
O reconhecimento da independência por Portugal ocorreu a 10 de Setembro de 1974, escassos meses após a Revolução dos Cravos que a 25 de Abril de 1974 pôs fim à ditadura portuguesa.
Decorre a 9 e 10 de Setembro no Centro de Convenções da Universidade de Cabo Verde, na Cidade da Praia, um simpósio internacional sobre Amílcar Cabral, sob a égide da Fundação do mesmo nome. Este fórum prossegue a 11 e 12 de Setembro na Guiné-Bissau, no INEP, Instituto nacional de estudos e pesquisa.
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