Cidade da Praia, 09 Set (Inforpress) –  O Presidente da República caracterizou hoje a figura de Amílcar Cabral como património da humanidade, realçando a sua luta pela dignidade de homens e mulheres em África e da abertura de espírito político e intelectual.

José Maria Neves falava ao presidir à abertura do Simpósio Internacional "Amílcar Cabral: Um Património Nacional e Universal” que decorre nos dias 09 e 10, na Cidade da Praia, e 11 e 12 na Guiné-Bissau, em homenagem ao centenário do nascimento do líder africano, no dia 12 de Setembro.

Segundo José Maria Neves, Cabral analisava com detalhe a situação política internacional, designadamente, os desentendimentos entre o Senegal e a República da Guiné, bem como os conflitos políticos internos no Senegal.

“Preocupado com os conflitos, lutas e traições no seio dos movimentos de libertação e nos Estados recém-independentes, ele questionava, em Agosto de 1971, numa reunião de Conselho Superior de Luta do PAIGC “Será que está tudo errado, não estarão enganando esses homens e mulheres da África”, citou.

Amílcar, que hoje é considerado um património da humanidade, disse, lutou “incansavelmente pela dignidade dos homens e mulheres da África e do mundo” demonstrando ser um homem com abertura de espírito que foi crescendo política e intelectualmente.

O presidente da Fundação Amílcar Cabral, Pedro Pires, na sua intervenção, salientou que a organização congratula-se com a participação empenhada da Universidade de Cabo Verde na realização deste simpósio internacional.

Para Pedro Pires, as universidade cabo-verdianas constituem, “naturalmente”, os centros privilegiados para o estudo, investigação e conhecimento da história e da saga amargurada do “nosso povo” incluindo a sua resiliência e batalhas, considerando os impactos múltiplos deste evento histórico cultural como uma importante mais valia que prestigia o País, abrindo perspectivas renovadas à sua afirmação nacional.

Além disso, explicou, a notoriedade da celebração do centenário de Amílcar Cabral revigora a auto-estima e estimula a coesão nacional.

Disse estar confiante de que a ampla e abrangente comemoração do centenário de Cabral proporcionará mais oportunidades, argumentos e fundamentos históricos para confirmação e consolidação do papel de Cabral e do seu pensamento inovador em todo processo libertador dos povos africanos.

No âmbito das actividades efectuadas pela fundação, Pedro Pires revelou que resta o trabalho da melhoria e modernização das estruturas físicas e tecnológicas, e a garantia da sua sustentabilidade a fim de continuar a assegurar a acção e a qualidade do seu desempenho.

Por sua vez, o historiador António Correia e Silva avançou que, normalmente, se pensa em Amílcar Cabral como homem do PAIGC e homem da independência, realçando que falar do líder africano vai além do homem que organizou um partido e diplomacia, mas sobretudo de uma pessoa que pensou a questão da emancipação.

“A independência, a formação e um Estado, ter uma bandeira, um território, não é o fim do caminho para Amilcar Cabral. O fim do caminho é a libertação do homem e esta libertação Amílcar Cabral tem várias componentes desde logo cultural, pensar pelas nossas cabeças” frisou

No entender do estudioso, a soberania do pensamento exige muito do homem, por isso que estes devem ter a capacidade para entender a realidade e entender os seus interesses.

O sociólogo do Centro de Estudos Sociais Amílcar Cabral na Guiné-Bissau (CESAC), Miguel de Barros, apresentou a sua análise debruçando que debater a questão da emancipação permite colocar análise em torno do pensamento e acção de Amílcar Cabral no que concerne a questões fundamentais como o conceito da soberania e soberania alimentar que tem a ver com os modelos de produção económica.

Miguel de Barros ressaltou que a questão da unidade Guiné e Cabo Verde foi conceitualizado na luta e libertação nacional onde o regime era único e o modelo que tinha sido implantado tanto nos dois países permita a segregação dos povos

“Hoje aquilo que estamos a compreender como as dinâmicas sócio-culturais vem mais no sentido de olhar como é que os povos desses dois territórios conseguem construir uma base para recriação do panafricanismos” disse, acentuando que Amílcar Cabral sendo um activo que compria bem o contexto histórico-politico entre Cabo Verde e a Guiné-Bissau, possibilitou a mobilização necessária para a luta pela libertação.

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