25 anos da Rádio Morabeza: De São Vicente, com morabeza
SOURCE: [Expresso das Ilhas]
Acima de tudo, no agreste panorama mediático nacional, é um caso de “resiliência” e inovação, e vontade de quebrar “alguma monotonia daquilo que é a oferta radiofónica” cabo-verdiana.
A 1 de Maio de 1999, ia para o ar a primeira emissão da Morabeza, rádio fundada por um grupo de amigos e conhecidos de São Vicente, entre os quais Carlos Pulû, Leão Lopes e Daniel Pinto Mascarenhas. Porém, para contarmos a sua história temos de ir um pouco atrás, pela memória de dois sócio-fundadores.
Daniel Pinto Mascarenhas, nome de baptismo de Djibla, é bem conhecido em São Vicente e a vitrine da sua casa fotográfica, inaugurada em 1967, assumiu, durante anos, o lugar de difusão de informações e outros tópicos. Isto ganhou ainda mais expressão a partir da Independência, quando o panorama da comunicação social se acinzentou. A rádio Barlavento (criada em 1955) foi encerrada em 1974 e logo a rádio Clube do Mindelo (1946), de que era sócio, também. Em tempo de partido único, toda comunicação social se reduziu aos órgãos estatais. A vitrine de Djibla continuava o seu papel. “Informação que faltava nos órgãos, passava ali na minha montra em primeira mão”, recorda.
Mas não bastava. A vontade de voltar a ter uma rádio a transmitir a partir do Barlavento ia fermentando. Também Leão Lopes vai à Rádio Clube do Mindelo para situar a génese da Rádio Morabeza. Com a desactivação dessa Rádio, um amigo “que representava a associação que detinha a rádio”, confiou-lhe o espólio que incluía os emissores “umas máquinas incríveis que pesavam centenas de quilos”, um piano velho, caixas de discos, fitas, bobines e vários documentos.
Leão Lopes guardou-o, pensando que, um dia, a rádio poderia ser restabelecida. Tal não foi possível em época de partido único, mas entre os amigos era já conversa. Os anos passaram, o regime mudou e “o Djibla e o Carlos Pulû, essencialmente”, mas também Onésimo Silveira, António Cardoso Santos, e outros, tiveram a iniciativa de lançar uma rádio.
Num primeiro momento, recorda por seu turno, Djibla, a ideia era reactivar a rádio Clube Mindelo, mas por vários motivos acabaram por ter de desistir da ideia. O que nasceria sim, desse desejo, era a Rádio Morabeza. Entretanto, Leão Lopes, que estava fora do país, regressou e ficou com a incumbência de instalar, efectiva e legalmente, a rádio.
Esperaram a abertura do concurso que o novo regime prometia e organizaram todo o dossier jurídico e técnico. Quando finalmente abriu o concurso, submeteram os documentos e afins impostos pela lei para obtenção de uma licença para cobertura nacional. Porém, o dossier, enviado por correio, ter-se-á extraviado na Praia.
“Nunca percebemos o que é que aconteceu”, conta Leão Lopes. “E demos conta, em cima da hora, que íamos ficar de fora”.
Revoltado, pensou levantar um processo contra a então Secretaria de Estado de Comunicação. Mas, por sugestão de um amigo advogado, enveredou por outro caminho. Em pouco tempo refez todo o dossier, e o próprio Leão Lopes, com os documentos debaixo do braço, deslocou-se à Praia para a entrega em mãos.
“Graças a isso, é que acabamos por ter o alvará” para uma rádio generalista, com sede em São Vicente, mas com expressão nacional. Uma rádio desenhada como “muito sensível ao que era a cultura cabo-verdiana, mas sem se fechar em nós. Uma rádio muito aberta, que queria também atrair gente nova”, e um espaço de experimentação, lembra o sócio-fundador.
Tinha, acima de tudo, uma abordagem muito próxima das comunidades, com frequentes emissões exteriores e directos, havendo, destacadamente um programa, que “foi uma das marcas da Rádio Morabeza no primeiro tempo” que era emitido diretamente de Lajinha”, recorda ainda.
A reacção da população à nova rádio privada da Zona Norte foi entusiasta. “Houve um grande apoio da população”, considera Djibla.
“Foi uma rádio de facto muito bem aceite para a malta jovem e pelo povo em geral. Os taxistas gostavam muito da rádio porque, segundo eles, tinha boa música e dava informações sucintas, interessantes. E foi marcante, creio eu, na altura”, corrobora Leão Lopes.
Ambos os fundadores estão, hoje, bastante desligados da rádio. A memória desses dias, às vezes, também já falha. Mas sabem que está a ir bem. “Temos aí uns rapazes muito activos”, congratula-se Djibla.
E para o futuro, o desejo de Djibla é direccionado ao Governo que espera que venha a dar mais apoio à Rádio, no seu entender o melhor meio de comunicação. Apoio para que os sucessores “tenham um caminho mais facilitado...” Isso e que, na comunicação social, haja sempre “liberdade!”.
2012, o ano da mudança
Ao longo dos anos, a rádio foi passando por vários momentos bons e outros menos bons, em que a sua própria existência foi mesmo posta em causa. Até que em 2012, os sócios-fundadores entregaram a gestão à Media Comunicações (que detém o jornal Expresso das Ilhas).
“Foi a partir daí que a rádio Morabeza realmente se estabilizou e se afirmou. E tem feito o seu papel, contribuindo de alguma forma para uma comunicação mais aberta, democrática, dentro do possível, aqui em Cabo Verde”, observa Leão Lopes.
Juntaram-se assim sinergias e, até certo ponto, redacções para potenciar recursos e a rádio, que era acima de tudo “uma rádio de entretenimento”, que passou a ter também uma forte aposta no serviço de notícias. Por outro lado, esse encontro permitiu “ter uma plataforma completa de oferta para os clientes” (jornal impresso, jornal online e rádio) e assim potenciar também um mercado comercial que existia”, explica Lígia Pinto, administradora da Média Comunicações e gestora da Rádio Morabeza.
A “fórmula” resultou e a facturação do rádio subiu e a par do trabalho feito (e que continua a ser feito) no quadro financeiro houve mudanças também na grelha, programação e conteúdos.
Aliás, “uma coisa reflecte a outra”, sublinha o director executivo da Morabeza, Nuno Andrade Ferreira. “Também fruto das dificuldades financeiras”, em 2012, esta era uma rádio muito disfuncional desse ponto vista.
“Tinha uma grelha frágil, com muitos buracos no meio, sem muita consistência. Mesmo em termos da própria programação, havia muitos horários que não tinham conteúdos propriamente ditos, e outros em que havia conteúdos, mas eles só aconteciam de vez em quando”.
Assim, o primeiro passo, foi tentar construir uma grelha bem estruturada, sem buracos, com conteúdos diversos, consistente e previsível e estável – pois a “estabilidade é muito importante para a fidelidade dos ouvintes”.
“Daí que, a grande diferença entre aquilo que tínhamos em 2012 e aquilo que temos hoje, além da estrutura física e dos RH, que são hoje muito mais do que quando começamos a gerir a rádio, é a própria grelha”, analisa.
Outra aposta foi, como referido, o reforço da vertente informativa, jornalística. Sendo uma rádio generalista, entretenimento e informação, devem andar “de mãos dadas” e tentou-se construir precisamente esse equilíbrio.
Hoje, a informação tornou-se também ela “uma marca distintiva e forte” da rádio Morabeza, garantida por uma pequena redacção (3 jornalistas em Mindelo e 1 na Praia), que tratam temas que muitas vezes passam ao lado das agendas de outros órgãos, nomeadamente os públicos, ou então mostram perspectivas diferentes para temas comuns.
“É uma equipa pequena, mas que eu acho que está muito bem organizada e muito oleada. As coisas funcionam muito bem e isso ajuda a compensar o facto de sermos poucos”.
Na verdade, essa posição distintiva é também, muitas vezes, uma forma de “superar ou mitigar as dificuldades inerentes” a uma pequena redacção. “Temos consciência que a limitação de recursos humanos que temos não nos permite fazer determinados tipos de coberturas. Então, vamos procurar, a partir daquilo que é a nossa capacidade e a nossa dinâmica, trazer outros temas, outro tipo de coberturas, marcar a diferença nesse sentido”, resume.
Manter a essência
As mudanças foram, pois, assinaláveis, desde 2012. Mas não mexeram na identidade da Morabeza, garantem os responsáveis.
“A Rádio Morabeza nunca vai perder a sua essência: é uma rádio de São Vicente, em São Vicente, mas também uma voz de Cabo Verde a partir de São Vicente. Uma rádio que não deixa de ser generalista, com um target bastante abrangente de jovens e jovens adultos, mas também pessoas já com mais idade, que apreciam a linha da rádio. Aliás, tem oferta para toda a gente”, considera Lígia Pinto.
Quando a Media Comunicações passou a gerir a rádio, NAF conhecia bem a Morabeza.
“Era uma rádio muito importante no contexto local, a região norte, em particular São Vicente. Uma rádio com muita história, e essa importância associada à história resulta, em grande parte, do facto de ter surgido dos anos 90, numa altura em que o mercado radiofónico do país se abriu, e, portanto, foi pioneira nesse sentido, mas também porque ao longo da sua história, foi sempre uma rádio muito próxima das pessoas, da comunidade, com a qual as pessoas se identificaram”, resume.
Essa identificação, no seu entender, deve-se a várias razões. A primeira, a referida preocupação em ter uma programação muito próxima das pessoas, mas também pelos conteúdos oferecidos, que eram distintos do restante panorama radiofónico cabo-verdiano e que, de certa forma arriscavam “fazer coisas diferentes”.
Além disso, sempre foi uma rádio “microfone aberto, sempre aberta para as pessoas, fazendo jus ao seu próprio nome e esta ideia do acolhimento, da abertura, de saber receber, que o próprio nome Morabeza indica”, analisa NAF. E foi “uma rádio que tentou sempre marcar a diferença e combater algum ‘cinzentismo’, alguma monotonia daquilo que a oferta radiofónica”, conclui.
Esse é, aliás, visto como um dos principais activos da rádio. Hoje, como ontem, e apesar das mudanças que trouxeram o seu crescimento, aumento da área de cobertura, e inclusive a profissionalização dos seus trabalhadores.
“Há muitas coisas que distinguem a rádio hoje, daquilo que é a rádio no início dos anos 90, daquilo que era a rádio em 2012, mas ao longo destes anos sempre se procurou e acho que se tem conseguido, de alguma forma, manter esse legado”, garante.
Nacional
Foi também depois da Media Comunicações assumir a gestão que se avançou naquilo que estava preconizado desde a fundação da rádio: uma rádio de cobertura nacional. Assim, e cumprindo inclusive os imperativos legais, sob pena de perda do alvará, investiu-se, em 2013, no alargamento da sua área de cobertura a toda a ilha de Santiago, Maio e parte da ilha do Fogo, com um emissor em Monte Tchota. Posteriormente, a cobertura da Praia foi reforçada com um emissor específico, em Achada Santo António, que acabou com algumas zonas de sombra persistentes na capital.
A presença na Praia, “um mercado muito importante para nós até do ponto de angariação de receitas”, foi crescendo e a rádio continua a somar ouvintes. “O feedback que temos tido é muito positivo. Houve um aumento muito grande da notoriedade e do reconhecimento da rádio no mercado da Praia, que também já sentíamos noutras zonas da Ilha de Santiago, na zona da Assomada, por exemplo”, conta NAF
Nesta conquista de mercados e ouvintes, evitam-se, no entanto, “loucuras que poderiam render audiências instantâneas, porque queremos que, associado ao nosso crescimento, venha um crescimento também da qualidade do produto que nós oferecemos e esse produto é a nossa grelha de programas”, sublinha.
E também a gestora sublinha que a expansão tem corrido bem, com a rádio a ser acarinhada, mesmo fora da zona Norte. “Não temos estudos de audiometria, mas temos o feedback das pessoas. Recebemos e-mails da Santa Cruz, pessoas a dizer que estão a ouvir Rádio Morabeza. Recebemos feedback, inclusive de pessoas no estrangeiro…” congratula-se.
O próximo passo, a concretizar no médio prazo, é chegar ao Sal e Boa Vista.
Clima agreste
A Morabeza está mais estável, “ainda é uma rádio que vive no vermelho, mas honra os seus compromissos, não tem dívidas, nem com a banca, nem com o Fisco, nem com o INPS”, orgulha-se
Lígia Pinto, lamentando, no entanto, não poder dar melhores condições. “Melhorar os salários, recrutar mais gente, efectivamente não conseguimos…”
Comparada com 2012, hoje, a facturação da rádio, é cerca de 15 vezes superior, mas mesmo assim, muito aquém do que poderia ser se houvesse “uma melhor estruturação da parte da publicidade institucional” e outros apoios, refere Lígia Pinto.
Uma das críticas que a gestora da Morabeza aponta, neste clima “faminto” da comunicação social, é “o desenfrear de licenciamentos sem ponderar o estudo de viabilidade”.
“As rádios que existem já são deficitárias. E ao se licenciar, para dividir com os que já existem, piora-se ainda mais o mercado”, acusa.
É que apesar das melhorias, o desafio de hoje é o desafio de sempre: a sustentabilidade. Para dar resposta a este desafio há coisas que a gestão da Morabeza tem sempre presente. “Primeiro, o ambiente em que nós actuamos, que é sempre de muita incerteza” e qualquer solavanco na economia tem reflexo imediato na publicidade, expõe.
Então, todo o avanço é feito lentamente, com uma gestão rigorosa dos recursos.
“Replico o que tenho aprendido na gestão do jornal [EI], com duras penas, que é o rigor. Não pensar que hoje, porque facturei o que eu acho que é muito, amanhã já posso descurar e sair a gastar. Não, porque eu vivo num mundo de incertezas. Eu tenho que estar sempre a cautelar. Temos responsabilidades com os postos de trabalho e não posso colocar isso em risco de maneira nenhuma. Esse cuidado na gestão é fundamental para garantir o futuro”, diz a gestora.
Precaução tem sido palavra de ordem, corrobora o director-executivo. Assim, nunca se caiu em outra “loucura” que é de investir “excessivamente de uma só vez”, entrando numa situação de endividamento. Todos os investimentos são paulatinos, muitas vezes feitos com as próprias poupanças, e só após recuperação do anterior.
“Isso, diminui o risco e dá-nos a segurança de que estamos a dar passos firmes “, refere.
No Ar
Com uma equipa pequena, parcos meios, mas muita vontade – “a nossa ambição é maior do que a nossa estrutura”, diz o director, a rádio está cheia de estórias de “desenrascanço”. Aliás, uma das memórias que certamente NAF levará da rádio, para a vida toda, é as vezes que esteve deitado no chão, “a passar cabos, a reparar coisas, a tentar pôr alguma coisa a funcionar”, por vezes até de madrugada.
De qualquer forma, o improviso é parte da rádio em qualquer lado, mais ainda quando se quer uma rádio bem feita, onde escasseiam recursos, considera.
E estas são peripécias que acontecem nos bastidores dos microfones que põem no ar os vários programas da Morabeza. Programas, garante a equipa, em que a criatividade e inovação, mas
também as parcerias e o microfone aberto aos ouvintes, colmatam as carências de recursos.
Programas muito diversos, que, no entanto, têm algo comum. “Eu acho que a Rádio Morabeza tem uma forma diferente de fazer a rádio, como eu costumo dizer, ‘rádio sem gravata’. As pessoas sentem-se bem a ouvir a rádio. Qualquer tipo de programa que estejam a ouvir é uma rádio que é feita de forma descontraída. Não é uma rádio atrelada nas agendas”, resume Lígia Pinto.
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22 em 25 anos
Flávio Fernandes é a voz que há mais tempo está nos microfones da Rádio Morabeza. Com background no mundo teatral, mais concretamente no extinto grupo sanvicentino Frank Cavaquim, Flávio chegou à Morabeza em 2001 e passou a trabalhar efectivamente com a emissora em 2002, como assistente de produção e locutor.
Tinha um programa de poesia que, conforme diz meio a sério, meio a brincar tinha apenas dois ouvintes: ele próprio e a mãe. Exagero certamente, até porque a rádio, que passara na altura a ser gerida pela Agência Comunicações, andava “na boca do povo”.
“Éramos irreverentes e gritaentes, chocalhamos a forma de fazer comunicação em São Vicente e a rádio aproximou-se muito mais do público”. Na rua ouviam-se as “expressões, os bordões de fala que usávamos na rádio serem repetidos”, conta o animador mais antigo da estação.
Foi nessa altura que surgiram muitos programas que ainda existem, e que marcaram a diferença. Programas como Alô Morabeza, “que deu espaço a que jovens trouxessem as suas músicas para a rádio, sobretudo o estilo Hip Hop. A rádio é muito associada ao movimento Hip Hop em São Vicente por causa da preponderância e importância que deu ao movimento”, salienta Flávio.
Testemunho disso é também Planeta RAP do DJ Letra, que “dá espaço aos criadores deste tipo de conteúdo musical”. Este, aliás, é provavelmente o programa mais antigo da Morabeza e definitivamente uma imagens de marca da rádio, aponta.
Em 2008, a Agência que a geria, saiu e a Rádio entrou num outro período. Por exemplo, “já não tínhamos programas de informação, apenas tipo faits divers”. A equipa foi aguentando a rádio, “levando”, até que em 2012 a Média Comunicações assumiu a gestão.
A rádio cresceu, entrou mais gente, inclusive mais animadores de antena. E perdeu gente. Em 2019 faleceu outro veterano, Euclides Carvalho (Kiki) que era o locutor do popular 40 Graus Morabeza. Flávio, que já o substituía nas férias, assumiu o seu lugar e o programa e manteve o legado.
“Hoje eu sou o locutor titular. Paralelamente a isso, aos sábados, das 9h às 11h, retorno à minha essência de fazer radio como fazia em 2002. Tenho um programinha especial que é Dia Internacional da Cachupa e de Lavar a Roupa, que é um momento de loucura sadia com os meus ouvintes” e muita brincadeira, conta.
Mas as mudanças na rádio não aconteceram apenas na Morabeza. Olhando para estas décadas há muita, muita coisa que mudou. Houve por exemplo, muitas mudanças tecnológicas, em termos nomeadamente “de software de automação da rádio”, e não só.
“A rádio mudou e muito. A forma de fazer mudou e mudou muito e a forma de ouvir também mudou”, resume.
Mas também há coisas que nunca mudam e a rádio continua a ser um local onde situações imprevistas podem sempre acontecer. Flávio lembra um desses episódios. Um de muitos. Ocorreu em 2018, quando houve um problema no estúdio. “Eu tinha só o microfone e não podia deixar o vazio no ar”. Assim, enquanto esperava que o computador de emissão reiniciasse e olhava as possibilidades de colocar música em microfone aberto, teve de improvisar.
“Meto um tema aleatório, e, como estávamos perto da Copa do Mundo, estou lá eu, a desenrascar, a dizer todos os nomes das selecções que tinham sido campeãs do mundo desde 1930…”
São histórias como esta que fazem esta rádio, cada vez mais nacional, e que tem São Vicente como “bastião”. Acima de tudo, olhando para todo o percurso da Morabeza, o que vemos é uma história de “inovação e de resiliência, porque manter uma rádio em Cabo Verde, com os parcos recursos que os órgãos privados têm no país, tentando competir e abocanhar um mercado que é exíguo, não é fácil”, define Flávio.
A Morabeza conseguiu. Manteve-se, reforçou-se e cresceu.
“Não há comparações com o que a rádio é hoje e o que a rádio já foi”. E qual o segredo? “Nós só conseguimos manter-nos porque somos originais, inovadores, criamos todos os dias. Caso contrário, cairíamos na mesmice ou... Já estaríamos fechados”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1170 de 1 de Maio de 2024