A profissional de dança Noelisa Santos exortou as autoridades e também os cabo-verdianos em geral a valorizarem mais os ritmos tradicionais cabo-verdianos que devem ser preservados e passados de geração em geração.

Neste dia Internacional da Dança, a Inforpress conversou com uma das artistas que actualmente se destaca no panorama artístico mindelense, e prova disso são os trabalhos feitos com diversos artistas nacionais, entre estes Élida Almeida, Dynamo, Diva Barros, grupo Sizal, Marco Rendall, e também com experiências até no panorama internacional, com DJ Nika e Deseoh, da Colômbia, e LillMymy, dos Estados Unidos da América.

Estes e outros projectos que se mostram frutos da experiência acumulada ao longo dos anos e da sua formação em dança, primeiramente na Holanda, país onde antes residia, e também Senegal e China, onde adquiriu os conhecimentos que decidiu pôr em prática em São Vicente, sua ilha natal, a partir de 2009.

E assim, com um olhar de fora para dentro, a artista de 39 anos alerta para a necessidade de se valorizar a dança tradicional cabo-verdiana, tanto da parte das autoridades, como dos cabo-verdianos em geral.

“Acredito que há falta de estímulos, por exemplo, porque é que as crianças não recebem aulas desde a escola primária”, considerou Noelisa Santos, tomando como referência países onde existem escolas para ensino só dos estilos tradicionais, por forma a permitir a transmissão da cultura de geração em geração.

A seu ver essa “passagem de testemunho” tem sido esquecida um pouco nos últimos tempos, com a perda do hábito de existir nas casas um rádio para toda a família e na qual passava muita música tradicional, que todos ouviam e dançavam.

Mesmo assim, assegura, os ritmos tradicionais não têm passado despercebido para a nova geração, que, “como qualquer cabo-verdiano, também se identifica com aquilo que é nosso”.

Noelisa Santos garantiu estar a falar por experiência própria, vivida com alunos seus do ensino superior e que sempre a surpreenderam com a entrega às aulas de dança com ritmos tradicionais.

Daí, acredita, a lacuna, hoje existente, poderia ser colmatada com a aposta na formação, tanto para aumentar o conhecimento, como também para combater a “falta de disciplina” que pessoalmente tem notado nos novos dançarinos, especialmente em São Vicente, onde tem trabalhado mais.

 “Este também é um dos factores que não deixam a dançar avançar, porque não conseguimos trabalhar no máximo da potencialidade, quando as pessoas não levam as coisas muito a sério”, reiterou a dançarina, referindo-se ao seu trabalho com adolescentes e jovens no grupo “Eclipse”, do qual é mentora.

Além da questão de disciplina, a mesma fonte indicou o “défice de dançarinos” como outros dos obstáculos enfrentados em São Vicente, ilha que já foi considerada “ninho” de vários grupos de dança e que até extravasaram as fronteiras de Cabo Verde.

Como relatou, tem conseguido formar alguns jovens, no Mindelo, mas, que depois são contratados por hotéis, nas ilhas mais turísticas do País, com “mais oportunidades”.

 “São Vicente tem falta de coisas concretas, que permitam ao dançarino dizer que vale a pena ficar na ilha e trabalhar com o que gosta”, sentenciou Noelisa Santos, para quem as autoridades locais poderiam apoiar mais, por exemplo na construção de um espaço para ensaios que neste momento não existe.

Mesmo assim, não deixa a sua persistência de lado e tenta “fazer o que possível, com as condições que tem”, uma máxima retratada na sua escola de dança, a funcionar na sua própria residência, e nos projectos que pretende pôr em práctica brevemente.

Em seus planos, realizará um workshop, intitulado “Confidancing”, desenvolvido em parceria com Ana Fernandes da “Krê ser” e voltado para as mulheres, “para se conectarem com elas mesmas”. O evento está marcado para 04 de Maio, no Mansa Floating, no Mindelo.

Também a partir de 03 de Maio começa a ministrar aulas a meninas dos 10 aos 15 anos sobre diversos estilos de dança, como forma de as preparar para actuações em palco, videoclipes e outras.

Tudo porque, como diz, até poderia viver sem dançar, “mas não seria a mesma coisa e nem seria a mesma pessoa”.

O 29 de Abril foi escolhido como Dia Internacional da Dança em 1982 pelo Comitê Internacional da Dança (CID) da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em homenagem a data de nascimento de Jean-Georges Noverre (1727-1810), um mestre do balé francês.

É destinado a homenagear uma das manifestações artísticas mais animadas e antigas que existem.

 

A Semana com Inforpress