Governar é, sim, LIBERTAR AS PESSOAS, deixá-las enfim florir e desabrochar, enquanto Seres únicos, pensantes e irredutíveis. O que é mais um reconhecimento, entre iguais, e não tanto uma heterónoma concessão.
Governar a sério é, antes de tudo, investir nas instituições do Estado de direito e da democracia, as únicas que podem levar-nos depois, num ciclo virtuoso, à Paz, Liberdade, Justiça e Fraternidade.
É este o núcleo duro da chamada "cultura cívica e democrática".
Só assim se edifica uma autêntica COMUNIDADE HUMANA, alicerçada, afinal, nos valores espirituais superiores, tão bem descritos e analisados por Max Scheler.
A CIVILIZAÇÃO é construída (ou destruída...) a partir desta finíssima camada noética, desta marca distintiva.
Somos, pois, animais cognitivo-simbólicos e é a nossa fundamental capacidade de Ideação que nos emancipa e, já pela "recta ratio", nos habilita e prepara para projectos humanamente significantes e que fazem, desde sempre, o orgulho legítimo da nossa espécie.
Ignorar, como faz hoje o MpD praticamente em peso, feito à pressa, bem se vê, de pequenos fanáticos, oportunistas, media dolls e acéfalos de variegada espécie, O CASO MAIS GRAVE já ocorrido nos últimos 33 anos de democracia em Cabo Verde, protagonizado pelo Presidente da República, o sr. José Maria Neves, é, realmente, uma prova cabal e insofismável de que, neste momento, AS PRIORIDADES ESTÃO INVERTIDAS, ao serviço de um sistema político-social que, no seu raso utilitarismo, funcionaliza o Homem-Pessoa e não permite, como explicava um João Paulo II, a construção efectiva de uma "ecologia moral" da LIBERDADE.
O MpD e o respectivo Governo porventura não desempenham (e se responsabilizam por...) funções constitucionais de relevo?
O acto vil, arbitrário, criminoso e ignominioso do nosso dito "mais alto magistrado da nação", ao atribuir, à margem das leis e da Constituição, um extraordinário salário, de 310 contos mensais, à sua namorada, é uma mancha negra sobre a dignidade deste povo, e põe em causa, una voce, todo o sistema jurídico-político-e-cultural instituído, fazendo, de permeio, solapar os eixos centrais da boa governança.
É vergonhoso e inaceitável, esse acto, e deve assim merecer o absoluto repúdio de qualquer Cidadão cabo-verdiano livre, consciente e minimamente patriótico.
Sob pena de grave IRRESPONSABILIDADE, tem pois de ser denunciado, escrutinado e combatido, dele se extraindo, com rigor, as necessárias CONSEQUÊNCIAS, para que não faça escola.
Existe, de qualquer forma, uma diferença essencial entre verdadeiros Estadistas (encarnados, por exemplo, pelas figuras tutelares de George Washington, Winston Churchill ou Willy Brandt) e meros tecnocratas, que se limitam a gerir, provisoriamente, um determinado "statu quo".
Temos de evitar, a todo o custo, que a pequenez de alma de uns e outros transforme, gradativamente, este País numa réplica insignificante do Zimbabwe, entregue à reles manipulação política, à ausência do espírito crítico e, claro, à perigosa vassalagem cultivada por mimetismo, e por serviçais impenitentes, ao estilo de um estranho e pouco recomendável culto de personalidade.
Síntese & relectio.
A Constituição da República não é apenas "uma lei" entre várias outras.
Não.
Ela é fundamentalmente o nosso CONTRATO COLECTIVO.
Ou seja, o "estatuto jurídico do político", como diria também um Gomes Canotilho, e a nossa verdadeira RESERVA DE JUSTIÇA.
A Constituição é, nesta sua dimensão inegociável, e mesmo indispensável, um Código de honra, juridicidade e emancipação humana.
Colocando-se assim no fastígio da Grundgesetz, repleta de axiomas de ordem material e vinculativa, para todos.
Se ela se perder, pela rapacidade dos homens, pelo cálculo miudinho dos chefes de plantão, tudo estará igualmente perdido. Irremediavelmente.
É só uma questão de tempo!
Vejam o que se passa, agora, na Venezuela e em tantos outros sítios infelizes.
A tragédia das nações sempre foi, aliás, uma sucessão de incompreensões e erros básicos.
Como nos versos premonitórios de Shakespeare:
Mad world, mad king, mad composition.