São 5 anos de actividade da Pró-Capital, que balanço é que faz?

O balanço é extremamente positivo. Na Pró-Capital, desde a sua criação até agora, já entraram para análise 180 projectos, dos quais cerca de 60% acabaram por ser descontinuados devido a diversas razões, mas neste horizonte temporal de 5 anos acabamos por investir em 12 projectos nos mais diversos sectores com uma carteira de investimento de cerca de 180 mil contos. Hoje temos a presença em cinco ilhas, em diversos sectores, vamos consolidando o investimento no sector e no mercado empresarial de Cabo Verde.

Quais são os principais sectores em que têm investido?

A Pró-Capital é uma sociedade de capital de risco, é uma instituição financeira 100% estatal, o único accionista é o Estado de Cabo Verde, sendo uma instituição de capital de risco é regulada pelo Banco Central. Se formos ver, a actividade de capital de risco começou em Cabo Verde em 1996, mas mesmo assim muita gente não conhece o capital de risco como um instrumento financeiro, como uma alternativa ao investimento. Temos hoje a banca tradicional, a que a maior parte dos empresários e das empresas acabam por recorrer, mas temos o capital de risco que actua do lado do capital próprio. No fundo, o capital de risco é uma parceria. Para haver uma parceria há que ter uma vontade entre as partes, principalmente do lado do promotor. Nós, enquanto sociedade de capital de direitos, temos as duas características principais. Uma é ser um accionista minoritário, por lei podemos ir até 49% do capital, e temos um período de permanência que também por lei é definido para o máximo de 12 anos. Quando entramos, acabamos por comprar uma parte do capital da empresa, acções até esse limite de 49% do capital e obrigatoriamente temos de sair. Pode ser um limite de até os 12, mas pode ser que a saída também ocorra antes dos 12 anos, em função da vontade do promotor, em função da própria evolução do negócio. E, para sairmos, vendemos a participação que compramos anteriormente para entrar e temos duas formas de efectuar a saída. Primeiramente temos de fazer uma avaliação, quem vende tem de saber qual é o valor do activo em que está para venda e o promotor tem sempre o direito de preferência para fazer essa aquisição. Caso não queira exercer esse direito, pode indicar uma terceira pessoa que possa adquirir essa participação. Nós, claramente, temos é, obrigatoriamente, ao entrar, de sair passando os 12 anos. A Pró-Capital é uma instituição de capital de risco e não um sistema de garantia e é um complemento ao financiamento bancário. Se formos ver, a banca geralmente não financia 100%, a estrutura óptima em termos de financiamento exigido pela banca é 30% de capitais próprios, 70% de financiamento bancário e nós actuamos do lado dos 30%, que é exigido pela banca, juntamente com o promotor. Entramos para complementar esses 30% em que não podemos ser maioritários, temos de ir até ao limite dos 49%. O grande foco, o grande objectivo de capital de risco, é consolidar os capitais próprios de forma a dar maior robustez à parte do capital próprio, de forma que a banca tenha um maior conforto em termos de financiamento. Uma grande vantagem do capital de risco é a parceria e um parceiro, sendo a Pró-Capital um parceiro institucional, já traz um conforto adicional à banca para o financiamento e já temos casos em que a banca diz claramente que só está disposta a financiar se a Pró-Capital entrar. Isto demonstra a relação que hoje temos com a banca e mesmo se formos ver o financiamento neste caso será repartido entre a banca, o capital de risco e o promotor que tem de entrar com uma parte.

Quais são as áreas? Disse que já investiram em 12 projectos...

Temos 12 projectos em que acabamos por entrar, desde o turismo, hotelaria, hoje temos presença num hotel aqui na Praia, temos um outro hotel em construção em São Vicente, e vamos entrar num outro empreendimento na Boa Vista. Isto no que respeita ao sector turístico, o turismo hoteleiro. Também temos presença no sector industrial, economia azul, agronegócios e também no sector transporte. Somos parte do complexo de pesca em São Nicolau. É um projecto que está em fase de implementação no cais de Tarrafal de São Nicolau. Nós somos parte neste projecto de investimento de cerca de 20 mil contos. Com a nossa entrada o promotor conseguiu financiamento bancário. Também com um bom aporte do promotor. Temos presença neste sector e só mesmo para realçar o impacto deste projecto, não só em São Nicolau, mas em toda a região norte em termos do sector de pesca em que o projecto começou com uma simples máquina de gelo. Hoje já temos um projecto de cerca de mais de um milhão de euros. É um complexo de pesca com capacidade para armazenamento, capacidade de frio e a SUCLA hoje é uma das melhores beneficiárias, porque com o projecto instalado no Porto de Tarrafal mais embarcações estão a fazer descarregamento no Porto. A SUCLA tem, assim, mais acesso à matéria-prima, o que, de certa forma, com a implementação do projecto, servirá de backup para a empresa em termos de capacidade de armazenagem e capacidade de frio. Isto somente para realçar a importância deste projecto e o impacto real que já está a ter, ainda sem a sua implementação na sua total capacidade. Estamos em fase de implementação, agora é que vamos receber os primeiros equipamentos de frio para começar a montagem e ter já o projecto que está pronto para inauguração entre o final do ano ou até o início do próximo ano, em função da evolução dos trabalhos.

Esse é um caso prático de um projecto do qual dentro de pouco tempo sairão, não é?

Isso pode ser relativo, porque temos um temporal máximo de 12 anos, só que se formos ver em termos práticos, em termos legais, a lei não estabelece um período mínimo de permanência. É um negócio como qualquer outro, implica a rentabilidade do investimento efectuado. Se formos ver, então, temos duas formas de ganhar no negócio. Uma é pela via de dividendos, em que qualquer accionista, qualquer investidor espera ter o retorno do investimento feito. Durante o período da permanência, sendo uma empresa, sendo um negócio, no final do período, com o resultado positivo ou não, em caso de ser positivo, o resultado pode ser distribuído para os accionistas via dividendos. Cada um irá receber a sua cota parte em função da participação que tem no negócio. Isto é uma das formas de ganho no negócio. Outra forma é na saída, se houver a realização de uma mais-valia. Qualquer investidor que entra no negócio é sempre no intuito de haver um crescimento, de acrescentar mais-valia, de forma a ter um retorno positivo no final do período. Mas pode ser que ocorra o contrário, pode ser que haja uma restrição de valor e que as coisas não são assim tão favoráveis em relação ao investimento. Tendo em conta essas duas formas de ganho nós, pelo menos, se formos pautar pela consolidação do negócio, nos três primeiros anos pode não ocorrer a distribuição de dividendos. Entretanto, estamos a limitar uma das formas de ganho que é via dividendos. Então, temos pelo menos o período mínimo de permanência até que ocorra o break-even do projecto, até que comece a gerar frutos. Antes disso não é plausível que saiamos antes deste horizonte temporal. Mas às vezes depende da evolução do negócio, da própria vontade do promotor. Já tivemos um caso em que acabamos por sair antes da implementação do projecto. Entretanto, o promotor teve interesse da parte de um outro investidor e acabamos por sair antes da própria implementação, mas a nossa entrada permitiu levar o projecto a um patamar pronto para ter mais investimentos. Se calhar, sem a nossa entrada, quiçá o projecto não estaria nessa fase pronto para receber mais investimentos de um investidor interessado.

Qual é o vosso investimento mínimo? A partir de que valor é que podem começar a demonstrar interesse no investimento?

Se formos ver, há algum mito, de que o capital de risco é para investimentos de maior porte e não investimentos de pequena dimensão. Não há nada contra ou a favor que indique qual é o montante mínimo em termos de investimento. Se formos ver, em termos de amplitude de investimento, já tivemos investimentos de pouco mais de mil contos, já tivemos investimentos de 20 mil contos. Mas, claramente, temos sectores que são mais atractivos que outros. Acabamos de analisar todos os projectos que recebemos, alguns podem ter mais interesse que outros, mas acabamos por analisar tudo e responder em termos de participação, sim ou não. De certa forma, há que desmistificar esse conceito de que a Pró-Capital só está formatada para grandes investimentos. Nós acabamos por entrar em função do interesse do negócio, em função da análise que é feita e nesse caso a análise tem dois aspectos fundamentais. O primeiro, que é a parte mais fácil, é a análise financeira a partir do plano de negócios. Todo o processo começa com a submissão do plano, em que nós, em função da análise, temos as duas opções, participar ou não, sim ou não. No caso de uma participação, qual é o montante com que estamos dispostos a entrar, qual é o risco que estamos dispostos a assumir ou a correr. Há uma outra parte mais subjectiva que é aferir sobre a capacidade e a idoneidade do promotor. Esta parte também tem o seu peso, porque é o promotor que vai implementar o negócio. Nós não conseguimos aferir, vendo a pessoa, quem é um bom promotor ou um mau promotor. De certa forma, com alguns encontros, algumas reuniões, o currículo e outras formas de tentar discernir sobre essa experiência do promotor, a mais-valia que ele acaba por trazer para o negócio, acaba por ser determinante para o negócio. É uma conjugação de factores entre o plano de negócios e a capacidade e a competência do próprio promotor. Todos os planos de negócios são viáveis. No papel é tudo viável, não há nenhum projecto que não é viável no papel, mas o tempo acabará por ditar o quão viável é o projecto ou não. Nós já temos a experiência em termos de projectos. Um projecto que, a priori, parece ser um bom investimento, com o decorrer do tempo e o próprio comportamento do promotor acaba por se aferir sobre o quão viável é o projecto. Se formos ver, nesses cinco anos de criação, já fizemos três desinvestimentos, acabamos por sair em três projectos. Mas cada caso é um caso.

Diz-me que nunca podem ser maioritários. No caso de sucesso de uma empresa, recebem dividendos, recebem as mais-valias na altura da saída do negócio. E se o negócio corre mal?

Daí que o próprio nome seja capital de risco. Se formos comparar com a banca tradicional ou o financiamento tradicional, nós não temos nenhuma garantia. A banca, para financiar qualquer projecto, qualquer investimento, tem uma garantia real. Nós acreditamos no projecto e investimos, com um conjunto de condições, de análises, de instrumentos que nos permitam aferir em relação à rentabilidade ou ser um bom ou mau projecto. Mas em casos em que o negócio pode correr menos bem, nós corremos o risco de perder a totalidade do investimento. Daí que a análise é fundamental, tanto a análise financeira do plano de negócios, como também de quem está por trás do negócio, quem é o promotor, quem é o investidor do negócio.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1180 de 10 de Julho de 2024.