A abertura esta terça-feira, na Academia Jotamont, em São Vicente, da derradeira sessão ordinária do actual mandato da Assembleia Municipal (AM) ficou marcada pela votação unânime abstenção de uma acta e actuação inédita de um grupo religioso.

Tudo ocorreu no período antes da ordem do dia da 8.ª sessão ordinária, sessão que arrancou de forma original, quando compareceu no palco, ainda antes da aprovação da ordem do dia, o grupo Desbravadores, da Igreja Adventista do Sétimo Dia, composto por jovens entre os 10 e os 15 anos, que interpretaram um cântico religioso, no entanto, muito saudado pelos eleitos municipais.

Se a actuação desse grupo foi inédito no decorrer de uma sessão ordinária da AM nos dias de hoje, da mesma forma não há memória, como revelaram à Inforpress alguns eleitos, de uma votação de uma acta quedar-se pela abstenção de todos os grupos políticos, a começar pelo MpD, que suporta a câmara, e terminar na UCID, PAICV e MIMS, estes três da oposição.

Tudo porque alguns eleitos discordaram da acta da sessão anterior, lida na ocasião pela secretária municipal, sobretudo por omitir aspectos dos discursos daqueles na referida sessão.

A mesa predispôs-se a acolher as rectificações dos eleitos e, por isso, decidiu levar a acta a votação, o que resultou na abstenção unanime.

“Abstenção não aprova nem desaprova a acta, pelo que vou retirar o documento e trazê-lo na próxima sessão”, proclamou a presidente da AM, Dora Pires, dando por encerrado o debate que já se adivinhava, atendendo aos vários pedidos de intervenção dos eleitos.

O período da manhã da sessão ordinária, convocada para, entre outros pontos, apreciar a conta de gerência da autarquia de São Vicente referente ao ano de 2023, prosseguiu com intervenções dos partidos e da câmara, a começar pela União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), cujo líder da bancada traçou um “quadro negro” da gestão camarária.

Jorge Fonseca acusou o presidente da autarquia, Augusto Neves, de “falta de cultura democrática” e de “tiques militarista” na gestão, que classificou de “pobre” e com “laivos de corrupção bastante intensos”.

Depois de perguntar por um leque de obras ainda por concluir, entre elas o polidesportivo de Chã de Alecrim, o prédio do antigo Registo Civil, a remodelação do mercado de peixe e “alguns bairros sociais”, Fonseca considerou que a câmara “desperdiçou de forma infantil” um mandato que poderia levar São Vicente a um “outro patamar” desenvolvimento.

Na mesma linha, o líder da bancada do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Odair Cruz, mencionou o “peso excessivo” da gestão corrente, realização de eventos culturais com “gastos excessivos” e “sem retorno” para o município e “muitas obras” por concluir, caracterizando, por isso, o desempenho de “negativo”.

Da parte do Movimento para a Democracia (MpD), tanto o líder da bancada, Flávio Lima, como o presidente da câmara, Augusto Neves, reconheceram que se tratou de um mandato “conturbado”, pois os últimos dois anos, 2023 e 2024, foram geridos com base em duodécimos do orçamento de 2022, tendo responsabilizado a oposição pelo chumbo de dois orçamentos.

Neves considerou, mesmo assim, que está preparado para uma “nova etapa”, referindo-se às eleições autárquicas do final do ano, sendo ele o candidato do MpD, pois, “apesar das dificuldades”, considerou que foi um mandato em que imperou “a eficiência e a transparência”, numa gestão participativa e em parceria com a população e a classe empresarial.

“Reconheço que temos muito a avançar na ilha, mas ela está preparada, tenho a consciência tranquila, pois com esta última conta de gerência do actual ciclo político cumprimos todos os objectivos proposto”, finalizou.

O período da tarde da 8.ª sessão ordinária tem como ponto alto a apreciação da conta de gerência da câmara municipal no ano de 2023.

A Semana com Inforpress