O leilão dos fundos do INPS e o concurso para a venda do BCA, colocaram, nas últimas semanas, o International Investment Bank, S.A. (iibCV), do iiBGroup, com sede no Bahrein, no centro de um furacão financeiro nunca antes visto em Cabo Verde. Na sequência do nosso artigo da semana passada, dando conta desta “guerrilha”, A NAÇÃO submeteu um questionário à equipa de gestão do iiBCV, cujas respostas publicamos para leitura e apreciação dos nossos leitores, em especial das autoridades (monetárias e políticas) de Cabo Verde. 

Como surgiu o iibCV? Quem são os seus accionistas? E qual o modelo de negócio em que assenta a operação do iibCV? 

Em julho de 2018, no âmbito da sua estratégia de aquisições, o iibGroup Holding WLL adquiriu 90% do capital da instituição, mantendo-se o Novo Banco como acionista de referência sobre o restante capital, ou seja, 10%. 

De forma subsequente, deu-se um processo de reposicionamento do iibCV no mercado, com vista a posicioná-lo como um verdadeiro banco de investimento internacional. A definição deste posicionamento decorre da própria análise ao potencial do mercado e às suas características: Cabo Verde é uma economia insular, de pequena dimensão, o que se traduz num mercado financeiro altamente competitivo, cujo posicionamento é semelhante e assente num modelo tradicional, mercado este participado por duas instituições, o BCA e a Caixa Económica, que pelo seu contexto histórico representam aproximadamente 65% do mercado. 

O interesse por Cabo Verde

Ou seja, não existe muito espaço para competir no modelo de negócio tradicional, exceto se tal for realizado por preço, o que esmagaria as margens para todos os operadores ou em conluio com os outros operadores de forma a apanhar uma parte do mercado às mesmas condições, mas práticas de cartel não são recomendáveis, nem por nós aceitáveis. 

Adicionalmente, Cabo Verde apresenta-se como um país socioeconomicamente estável, com uma adequada segregação de poderes e condições monetárias ímpares: (1) liberdade de circulação de capitais em moeda estrangeira, (2) um valor fixo da sua moeda face ao euro e (3) total convertibilidade do escudo cabo-verdiano. 

Desta forma, para ser possível fazer do iibCV uma operação bem-sucedida numa perspetiva de retorno ajustado ao risco, ou seja, ser possível gerar níveis de retorno significativos com o risco mais baixo possível, a equipa teria de ser capaz de desenvolver o que os outros bancos não vinham a fazer, de forma a diferenciar-se. Tal passou pela identificação do potencial excecional que Cabo Verde tem na sua localização geográfica, complementado pela sua estrutura monetária, podendo vir a afirmar-se como uma potencial economia plataforma. A estrutura que Cabo Verde oferece, de acordo com a sua legislação e política monetária, traduz uma natureza internacional do seu posicionamento ímpar na África Subsariana, infelizmente ainda muito pouco conhecida e reconhecida.

Foi na promessa que a própria legislação vigente e a estrutura da política monetária definem que se implementou a estratégia e modelo de negócio do iibCV, que passa por desenvolver a capacidade do talento humano local, de forma a capacitá-lo para que este possa gerar operações a partir de Cabo Verde com os mais elevados standards internacionais, procurando não competir com os bancos locais, mas com os internacionais e mostrar que em Cabo Verde qualquer cliente pode ser servido ao melhor nível. 

O iibCV é, por isso, conhecido por não competir por preço, mas pela capacidade de geração de valor através dos serviços e produtos que origina e estrutura que, pela sua customização, refletem estudo e empenho da equipa para os criar. Apesar do modelo de negócio específico que o iibCV desenvolve, este está devidamente enquadrado na legislação e regulação que se lhe aplicam. 

Quem é o principal accionista individual da iib Group?

O iibGroup é detido pelos seus colaboradores pertencentes à gestão, sendo o acionista maioritário Sohail Sultan, natural do Reino Unido, antigo quadro Sénior do Citibank e diretor executivo do Barclays Capital. O Sohail Sultan tem estado presente nos media, inclusivamente em Cabo Verde. Custa, por isso, entender a dificuldade em identificá-lo. 

Importa, também, reconhecer que o iibCV tem muitos rostos, todos disponíveis ao público através do website, factsheet publicada trimestralmente, relatórios regulamentares, entre outros. Inclusivamente, o iibCV é conhecido por ter a equipa a participar nas mais diversas iniciativas do banco. É algo que nos tem caracterizado, o estarmos presentes por nós, pelo grupo, pelo benefício comum. Sabendo que acionistas e colegas podem mudar pelos mais diversos motivos, pessoais e profissionais, é nossa opinião que uma instituição não é representada por uma pessoa, mas pela soma das suas pessoas, que definem a equipa. 

No quadro do leilão dos depósitos do INPS, como é que explica o facto de o iibCV ter vencido o leilão, sabendo que apresentou a terceira melhor proposta em termos de remuneração? 

Agradecemos-lhe a pergunta e pedimos-lhe que reveja o conteúdo do convite endereçado aos bancos para a realização do leilão, no ponto 3, que acredito explicar totalmente esta questão:

“(…) O apuramento dos resultados do presente leilão terá em conta os critérios abaixo indicados: (i) A melhor proposta de taxa de juro apresentada por cada banco, (ii) Rácios Prudenciais e de Risco (…), designadamente: Solvabilidade(Rácio que mede a capacidade de uma instituição fazer face às suas obrigações.); Fundos Próprios; Rácio de Transformação; NPL – Non Performing Loan(Proporção de créditos mal parados há mais de 90 dias).” 

Importa também esclarecer que na data de entrega das propostas do leilão foi explicado o mecanismo do leilão aos representantes dos bancos, com a identificação dos ponderadores por critério e a forma como o mesmo era cumulativo, ou seja, o ponderador (%) de cada critério é multiplicado pelo valor provindo dos Relatórios e Contas auditados de cada banco e os valores resultantes somados, constituindo o resultado classificativo final. Apesar de haver documentos adicionais que explicam este tema em maior detalhe, destacaria como relevante a necessidade da vossa revisão da ata que todos os representantes dos bancos assinaram no ato do leilão, facto que outros parecem intencionalmente não querer abordar.

Se o iibCV mantiver o posicionamento de banco internacional, conjugado com o BCA, poderá constituir uma entidade com dimensão e escala suficientes para posicionar o mercado financeiro cabo-verdiano como um hub de desenvolvimento de negócios de referência na região e na lusofonia.

A abordagem do leilão é clara: considera a taxa de juro e os indicadores de risco. Se considerada a remuneração do depósito ajustada pelo risco que cada banco representa, a proposta do iibCV foi a mais elevada, logo o iibCV ficou em primeiro e não em terceiro, como tanto se insiste em veicular, ignorando os factos. 

Se há quem não concorde com os critérios do leilão que recomende então uma alternativa, de forma aberta, colaborativa e construtiva, mas é importante respeitar a verdade.

O iibCV possui indicadores de risco de elevada qualidade, nomeadamente:

O rácio de solvência (capacidade de um banco cumprir as suas obrigações) é o mais elevado do mercado nos últimos anos, situando-se em 2022 em 35,80% (a fecho de 2023 será superior ao ano anterior). É importante referir que, dada a dimensão dos bancos presentes no país, standards internacionais como os aplicados pelo Banco de Portugal estabelecem, numa perspetiva de análise individual a bancos de dimensão comparável, que os níveis de solvência se enquadrem acima de 16-18%, independentemente de o nível regulamentar ser mais baixo, atendendo a que bancos pequenos tendem a ter maior concentração de depositantes e devedores, representando riscos adicionais por efeitos de não diversificação. 

Rácio de transformação (conversão de depósitos de clientes em crédito por desembolso) – Pelo mesmo motivo mencionado acima (concentração) e numa perspetiva de liquidez de balanço, para responder às necessidades de liquidez de clientes, os standards internacionais apontam para que mercados como Cabo Verde apresentem rácios não superiores a 60%, para evitar que não seja possível a um banco honrar uma ordem de transferência apresentada por um cliente. Esta questão é substancialmente relevante em mercados onde o mercado monetário interbancário é não funcionante e caso a instituição não goze de quaisquer meios de acesso a liquidez ou subsidiação neste particular. O iibCV apresentava em 2022 um rácio de 41,29% – em 2023 continuará abaixo de 60%.

NPL (créditos malparados há mais de 90 dias) – Standards internacionais classificam as instituições como High NPL Institutions (instituições de elevado risco de malparados) aquelas que apresentem rácios superiores a 5%, representando uma estrutura da carteira de crédito mais deteriorada devido a uma maior sinistralidade dos devedores. O iibCV apresentava à data um rácio de 1,03%, o mais baixo do mercado – o de 2023 situa-se sensivelmente a metade do ano anterior.

Com tudo o que foi dito nos media sobre este tema, dizer que o iibCV ganhou ficando em terceiro lugar é incorreto, pelo que esta comunicação reiterada visa apenas enganar o público nesta questão. 

O leilão poderia ser realizado com outros critérios, porém, não consideramos que esta abordagem seja errada. Esta é uma forma claramente aceitável e comum ao formato utilizado nos mercados desenvolvidos, onde se utilizam critérios de retorno e de risco, pois dado o enquadramento global, já se sabe o que pode acontecer a bancos com níveis de liquidez disponível e níveis de solvência baixos, tema a que Cabo Verde já não é alheio, sendo um mercado onde um banco já colapsou (Novo Banco em 2014).

Diante das reclamações, por que razão o iib não retirou a sua proposta antes mesmo de o BCV intervir, para deixar claro que não estava a aproveitar uma situação de conflito de interesse, já que um quadro do iib é PCA do INPS? 

Infelizmente não soubemos que existia uma reclamação até depois da realização do segundo leilão, na sequência da comunicação do BCV aos bancos a recomendar não participarem, no dia 21 de dezembro. 

Não nos caberá comentar a razão pela qual alguns bancos decidiram avançar com esta reclamação, que não foi subscrita por todos os participantes do leilão que também não ganharam o leilão, por “baixo do pano” e não de forma aberta, dando a conhecer as matérias apresentadas, bem como os factos e as evidências que a suportariam. Consideramos que seria mais construtiva uma abordagem aberta e honesta, com possível sugestão de formas alternativas para a alocação de fundos junto dos bancos. 

Conflito de interesses?

E a questão do conflito de interesses, o que têm a dizer sobre isso?

Relativamente a isso não entendemos como o facto de alguém que suspendeu as suas funções para desempenhar funções públicas, cuja posição conduz a um relacionamento institucional pré-existente, constitui um conflito de interesses. Se essa relação for estabelecida com base em interações transparentes, documentadas e devidamente suportadas, como aliás, deve ser o princípio aplicado a todas as relações comerciais, não se vê onde estará o conflito. 

No caso dos leilões, as regras foram estabelecidas a priori, em igualdade para todos os participantes. E só porque quem ganhou não apraz a um ou outro banco participante tomou-se a iniciativa de manchar anos de trabalho e reputação de um profissional. Tal abordagem é significativamente antiética e desonesta.

Os números demonstram que não só o iibCV não é uma instituição historicamente tão contribuída com recursos do INPS, como em média remunera mais alto que os comparáveis (os recursos totais do INPS com o iibCV rendiam a uma taxa média bruta de 2,66% por ano em 2022), apesar de os indicadores de risco que apresenta serem de maior qualidade. 

A vontade que a equipa tem seria poder reclamar, para que também fosse explicado publicamente a razão pela qual o iibCV, sem saber, teve de pagar mais pelos recursos do que os restantes participantes do mercado. Existe alguma razão aos olhos da regulação e da lei que o justifique? Se não existe razão para esta penalização do iibCV, então qual foi o motivo?

É desmotivante, mas este tema parece resultar apenas de uma fonte que ao longo dos anos tem vindo a colocar os mais diversos maldizeres e tem tirado proveito de vários canais de influência para os ver vertidos sem critério ou verificação, com o intuito de competir através de padrões pouco éticos. Esta forma de estar não acarretará nenhum benefício para o mercado financeiro, a economia e o país sob nenhuma perspetiva.

Sabemos que o INPS subscreveu uma obrigação do iiB através de colocação privada. Como explica esse investimento?

O iibCV publica trimestralmente as suas contas de gestão (factsheet) e divulga-as de forma aberta e transparente. Acreditamos ser a única instituição que voluntariamente o faz em Cabo Verde. Com base nessa publicação, a equipa do iibCV realiza roadshows para apresentar os indicadores da sua atividade, as demonstrações financeiras não auditadas, as principais concretizações do ano e as atividades de sustentabilidade e responsabilidade social levadas a cabo. Nestes momentos são também apresentados produtos e serviços especialmente pensados para cada um destes clientes e stakeholders, em formato de workshop. Vários produtos vieram ao mercado desta forma, tais como a obrigação social emitida, o primeiro derivado, entre outros.

Desde 2020 que a equipa do iibCV vinha a propor um conjunto de operações ao INPS, num caderno diversificado de possibilidades, onde se inclui o aumento do investimento em obrigações enquanto instrumento alternativo à alocação de depósitos. Qual o motivo desta proposta: 

(i) Os relatórios e contas publicados demonstravam uma disponibilidade enorme de recursos do INPS a uma taxa média de rendibilidade muito baixa; 

(ii) Para um mesmo emitente (vamos pressupor um banco), o risco representado por um depósito é superior ao detentor de uma obrigação sénior, ou seja, quem detém obrigações seniores é pago primeiro em caso de problemas face a um detentor de depósitos, logo o investimento representa menor risco (infelizmente a maior parte das pessoas não está consciente deste realidade e considera um depósito mais seguro, mas não é, exceto até ao montante garantido pelo fundo de garantia de depósitos no valor de 1 000 000 CVE, valor baixo para o grosso dos aforradores); 

(iii) Os rendimentos obtidos com títulos emitidos através da Bolsa de Valores de Cabo Verde têm uma tributação por retenção na fonte mais favorável aos aforradores (10% no caso de ofertas privadas e 5% nas ofertas públicas) do que os depósitos (20%), ou seja, para uma mesma taxa de 3% a remuneração líquida de uma obrigação para o investidor é 2,7%, enquanto que a de um depósito é de 2,4%, tendo mais risco associado; 

(iv) Em 2022, a nossa análise de mercado, documentada internamente, já apontava para um aumento agressivo nas taxas de juro de mercado no futuro, pelo que em antecipação disponibilizamo-nos a pagar 3% pela mencionada emissão, valor que era substancialmente superior às taxas pagas pelos concorrentes à data, como agora se conhece.

Em termos práticos, Cabo Verde poderia olhar para o exemplo das Maurícias, utilizando a capacidade de um banco prestar serviços e produtos com base em standards internacionais como forma de atrair operadores de outros países em áreas como a logística, trading, distribuição, indústria farmacêutica entre outros, fixando-se em Cabo Verde e operando internacionalmente a partir do país.

Identificar oportunidades como esta resulta de uma abordagem de venda consultiva, que é o modelo desenvolvido pelo iibCV em termos de abordagem ao cliente, ou seja, existe uma aplicação de recursos humanos e financeiros que se dedica a estudar normas, regulações, relatórios entre outros documentos relevantes para ser capaz de apresentar serviços e produtos customizados às necessidades dos seus parceiros. Mas esta abordagem, como deve depreender, tem custos decorrentes do empenho e dedicação que exige das nossas pessoas, para que sejam capazes de o fazer de forma conveniente.

Imagem do iibCV 

Considera que esta polémica em torno dos leilões tem impacto na imagem do iibCV e prejudica o mercado financeiro cabo verdiano? 

A imagem do iibCV já vinha sendo atacada faz anos, de forma gratuita e infundada, pelo que é importante que se esclareçam de forma comprovada todos esses conteúdos para que a instituição se possa focar na sua missão que é contribuir para o desenvolvimento económico de Cabo Verde e das perspetivas de futuro das suas pessoas.

Cabo Verde é um mercado com muito potencial, que começa pela qualidade dos seus quadros, que quando expostos a soluções financeiras inovadoras e standards internacionais, transparentes e auditáveis, respondem muito bem, mas para isso precisam que as oportunidades lhe sejam proporcionadas. A manutenção do status quo não permitirá o foco na prosperidade e benefício que a mudança pode trazer! 

A perspetiva positiva é de que Cabo Verde não tem de ser assim, existe um futuro de enorme potencial, mas é precisar dar-lhe oportunidade de o ser, nos mais diferentes setores.

E isso tem, ou não, no vosso entender, consequências para a reputação de Cabo Verde? 

Cabo Verde é um Estado de direito. As motivações que parecem ter levado à tentativa de criar um problema não devem ser confundidas com o que o país é e pretende ser. Num país democrático, de alguma forma ou de outra, toda a gente se pode ver refém de acusações gratuitas de outra pessoa, motivada pelos seus interesses financeiros, que só a si beneficiam. 

O iibGroup é um dos candidatos à compra do BCA. Que mais-valia o iib conta introduzir em Cabo Verde caso consiga o BCA? 

Se o iibCV mantiver o posicionamento de banco internacional, conjugado com o BCA, poderá constituir uma entidade com dimensão e escala suficientes para posicionar o mercado financeiro cabo-verdiano como um hub de desenvolvimento de negócios de referência na região e na lusofonia. Adicionalmente, as práticas remuneratórias e de formação/capacitação aplicadas a uma instituição substancialmente maior garantidamente traduziriam externalidades positivas no mercado, pois até à dada no iibCV existiu um compromisso de remunerar os colaboradores com indexação aos resultados da instituição, pelo que, como já se verificou, quando o banco registou resultados recorde, as nossas pessoas também registaram rendimentos recorde. No iibCV, as nossas pessoas têm sido o nosso compromisso, como comprovado pelo nosso registo de desempenho. Temos orgulho na cultura do iibCV que se espelha no processo de avaliação externa que é conduzido anualmente (Great Place to Work).

Exemplo das Maurícias

De forma sucinta, mas em termos práticos, Cabo Verde poderia olhar para o exemplo das Maurícias, utilizando a capacidade de um banco prestar serviços e produtos com base em standards internacionais como forma de atrair operadores de outros países em áreas como a logística, trading, distribuição, indústria farmacêutica entre outros, fixando-se em Cabo Verde e operando internacionalmente a partir do país. 

Obviamente, a fixação destes operadores conduz à criação de emprego qualificado e bem pago, melhorias das infra-estruturas e diminuição dos preços dos produto e serviços por eles operados. Consegue imaginar o benefício de ter operadores nos ramos alimentares e farmacêuticos em Cabo Verde de dimensão internacional? Qual seria o benefício para a população passar a ter acesso a mais e melhores produtos e serviços, mas ao mesmo tempo, mais baratos?

Infelizmente esta perspetiva não será para benefício de todos, mas seguramente é para a maioria e especialmente para o cidadão comum.

Conseguindo o BCA, o iibCV, enquanto tal, deixa de existir ou manterá os dois bancos? 

Seguramente, procurar-se-á assegurar uma transição suave, com perspetiva de combinar as melhores características que cada banco tem, tirando-se valor das sinergias existentes entre os diferentes modelos de negócio existentes, sem descaracterizar o potencial do BCA que já está mais do que consolidado como líder de mercado. No entanto, qualquer estratégia será sempre sujeita à não oposição do Banco Central de Cabo Verde.

Nesta corrida, qual é o principal trunfo do iib em relação aos seus dois concorrentes?

De forma pragmática, cremos que se aborda este tema na comunicação social numa base quase emocional, que um processo deste género não costuma ter. O processo é claro, tem regras definidas, comunicadas de forma aberta previamente, que são iguais para todos os concorrentes. Não interessa se os concorrentes gostam delas ou não, as regras são as que são e têm de ser cumpridas, não existindo recurso de reclamação para que se possam ver alteradas. 

Assim sendo, as entidades concorrentes à compra ou são elegíveis ou não são elegíveis, sendo elegível quem pagar mais, ajustado esse valor de pagamento às restantes condições exigidas pelo vendedor, ganhará (prevê-se de forma clara no processo de vende que preço não é o único fator considerado, como as boas práticas internacionais recomendam). 

O iibCV e a concorrência 

Circulam rumores, no mercado e na imprensa, de que a compra do BCA pelo iibGroup está a ser mal vista. Como reage a esta informação? 

É desencorajador, pela forma pouco transparente e desconsiderada com que a suposta fonte, mencionada nas diversas peças mediáticas, tem levado a cabo a sua ação.

Se o tema é reputação, poderá e será benéfico para esclarecimento do mercado que se trabalhe numa peça sobre o perfil de cada banco, um “Quem é Quem” do setor financeiro em Cabo Verde, onde se reveja o currículo dos acionistas e gestores de cada banco, mas com profundidade e perspetiva histórica.

A intenção e malícia da abordagem já chegou a tal nível que já se ouvem formas xenófobas de discriminação, em que se alega que uma instituição não é adequada por ser estrangeira. 

Para economias em desenvolvimento, a penetração de instituições financeiras de matriz internacional constitui um leque de oportunidades, pois estas acarretam capital adicional, novas formas de fazer negócio, de gerir risco e de alocar liquidez. Estas variáveis traduzem a acumulação de capital a prazo, que será um contributo diferenciado para suportar um crescimento económico superior no longo prazo. É importante relembrar que em Cabo Verde o único banco de capitais com origem totalmente cabo-verdianas será a Caixa Económica.

Discriminar seja quem for, por que motivo for, é injusto e denota uma natureza que já não deveria ser aceitável no século XXI. Ainda assim, apesar de ter acionistas estrangeiros provindos da Europa, o iibCV tem nos seus quadros apenas um expatriado, sendo todos os restantes colegas cabo-verdianos, mas se fossem estrangeiros mereceriam a mesma consideração e respeito.  

Ao analisar os principais indicadores publicados no Balanço & Contas de 2022, constata-se que o iibCV só concedeu 5,4 Milhões de Contos em 2020, 5,5 Milhões de Contos em 2021 e 7,3 Milhões de contos em 2022, qual a razão para conceder tão pouco crédito à economia cabo-verdiana? 

A referência que faz ao relatório e contas não corresponde à informação nele contida, uma vez que a concessão de crédito à economia pode ser realizada através de vários instrumentos, todos eles conhecidos do mercado e classificados como tal. Desta forma, permita-nos esclarecer de forma inequívoca que, de acordo com os relatórios e contas auditados do iibCV, o montante total da carteira de crédito concedido (crédito por desembolso, extrapatrimonial e obrigações), aumentou de forma agressiva durante o período da pandemia, como se pode ver no quadro 1.

2022 2021 2020 2019
Crédito Concedido    18 671 292,00       13 629 871,00       8 797 500,00       6 360 126,00   
Variação Anual (%) 37% 55% 38%
Var. Acumulada vs 2019 194% 114% 38%

O iibCV procurou fazê-lo de forma mais intensiva através de instrumentos do mercado de capitais, como as obrigações, garantindo uma estrutura de ativos mais alinhada com a estratégia e modelo de negócio. As obrigações (i) listadas na BVC possuem enquadramento legal mais transparente e standardizado e fiscalmente mais benéfico (ii) Enquanto instrumento de concessão de crédito, são ativos passiveis de ser transacionados ou dados como garantia para obtenção de linhas de crédito e por isso mais líquidos, ou seja, em caso de necessidade de defender o balando podem ser vendidos, enquanto os financiamentos tradicionais não.

No Direito de reposta feito à noticia saída no jornal “Sol” ficou omisso a questão relacionada com o facto do passivo do iibCV registar 85,5 milhões de euros (9,5 milhões de Contos CVE) de Recursos do Banco de Cabo Verde, obtidos através do mecanismo de Cedência Especial de Liquidez a taxas de 0,75%, que se destinavam exclusivamente a apoiar a retoma económica do país no pós-covid, quando o IIB tem um stock de crédito cedido à Economia até 2022 de apenas 66 Milhões de Euros (7,3 Milhões de Contos CVE), sendo indicado nessa notícia como o Banco que menos empréstimos dá à economia. Porquê que o iiB foi buscar todo esse dinheiro ao BCV quando o crédito à economia só aumentou de 1,8 Milhões de contos (subiu de 5,5 para 7,2 Milhões de Contos CVE de 2021 para 2022)? 

Lendo a comunicação que o iibGroup publicou não cremos que tenha ficado omisso, cremos sim que esta pergunta possui o mesmo erro de conceito da anterior, no que toca ao significa de “concessão de crédito”. Como referimos, a concessão de crédito, numa qualquer economia, pode ser realizada por diversos instrumentos, e no caso do iibCV essa concessão foi realizada de forma agressiva, assumindo o banco as exposições através dos instrumentos e aos agentes económicos que considerou serem adequados à data, dentro das normas estabelecidas. 

Assim sendo, podemos afirmar inequivocamente que o recurso às Operações Monetárias de Financiamento, devidamente monitorizadas pelo BCV, serviu única e exclusivamente para financiar a economia cabo-verdiana, através de obrigações, mas não limitado a esse instrumento de concessão de crédito, cujo valor concedido é muito superior à utilização das referidas operações, como se comprova nos relatórios auditados. 

Esta expansão da carteira de obrigações do iibCV teve, entre vários impactos positivos inegáveis, a diminuição das taxas de juros ativas das emissões de dívida realizadas em bolsa nos últimos quatro anos, beneficiando o serviço da dívida pública e do setor privado. É inequívoco que o Estado de Cabo Verde se financia hoje no mercado aos níveis mais baixos de que há memória, bem como mais e mais empresas e câmaras municipais recorrem à concessão de crédito via mercado de capitais, onde as taxas de juro são inferiores às que a banca lhes oferece nas operações de financiamento tradicionais.

Aplicações no exterior

O Balanço do IIB Cabo Verde mostra que o banco tem aplicações fora de Cabo Verde no valor de 103 Milhões de Euros (11,4 Milhões de Contos CVE) dos quais destaca-se a aplicação no iib Bahamas no valor de 47,8 milhões de euros que dizem ser remunerados a taxas correntes de mercado. Que aplicação é dado a esse valor que está no iib Bahamas? Qual o risco associado a essas aplicações?

As aplicações junto de instituições financeiras constituem aplicações básicas de mercado monetário, cuja maioria se situa no prazo de até um mês, não ultrapassando seis meses. As referidas aplicações visam rentabilizar excedentes de liquidez de curto prazo, que pela sua natureza podem ser requeridos pelos clientes a qualquer momento, pelo que não podem ser aplicadas pelo iibCV em ativos não líquidos a prazo, tendo em conta os riscos do mercado e os standards e boas práticas internacionais. Permita-me só corrigir que nem todas as aplicações de monetário são realizadas com instituições fora do país. O iibCV providencia liquidez no mercado monetário local, passível de realizar as aplicações em moeda local e estrangeira a entidades a operar em Cabo Verde, como é normal em qualquer mercado. 

Todos os mercados internacionais têm os seus bancos a trabalhar a liquidez numa base diária, com consecutivas tomadas e cedências de forma a otimizar o rendimento passível de ser obtido pela liquidez, algo que ajuda a fortalecer as instituições e reduz o risco de liquidez do sistema como um todo. 

A ideia que se tem é que o iiBCV está a recorrer a fundos cabo-verdianos para a sua aplicação no exterior. É isto verdade? 

É falsa esta ideia. O iibCV, enquanto banco com pegada internacional capta mais recursos fora de Cabo Verde, tipicamente em moeda estrangeira, através de depósitos de clientes e instituições financeiras internacionais, do que aqueles que concede a entidades fora do mercado. O diferencial líquido para Cabo Verde varia no tempo, mas tipicamente situa-se acima de CVE 2 000 000 de contos, enquanto liquidez aplicada em Cabo Verde proveniente de mercados internacionais.

Não interessa se os concorrentes gostam delas ou não, as regras são as que são e têm de ser cumpridas, não existindo recurso de reclamação para que se possam ver alteradas.

Mas, e se for verdade, acha bem um país com a dimensão de Cabo Verde estar a financiar os vossos investimentos no exterior? 

Não é verdade, é simplesmente o reflexo de uma fonte específica que, tirando proveito dos relatórios e contas redigidos e publicados com adequabilidade e transparência, utiliza dados de forma parcial, descontextualizando-os e distorcendo-os para dar resposta a uma agenda muito especifica, mas baseada em má-fé.

Inclusivamente, os bancos emissores de obrigações enfrentam, ao abrigo da regulação aplicável, maior exigência no detalhe e estrutura das notas às demonstrações financeiras, quando comparados com bancos que não são emissores de títulos. 

O iib foi pioneiro na emissão de social bonds e green bonds destinada a angariar no mercado de capitais fundos para o financiamento de projectos de cariz social e de produção de energias renováveis. Pode-nos indicar qual foi o montante mobilizado e a percentagem desse montante que já foi direccionado para o financiamento de projectos de natureza social e ambiental? 

As emissões de dívida sustentável são extremamente escrutinadas, sujeitas a um processo de certificação por auditor externo antes da emissão, que valida os documentos da emissão com especial foco no enquadramento da emissão. Após a emissão, o emissor tem de publicar os relatórios de impacto numa base anual, onde é detalhada a utilização dos fundos, de acordo com o referido enquadramento. Não é possível ser mais transparente do que isto e acreditamos que estes tipos de iniciativas vieram para ficar, dado que asseguram aos aforradores uma visibilidade sobre a utilização dos seus fundos que não lhes é dada pela mera constituição de depósitos.

No que concerne à emissão social emitida, iib Solidary Indexed Bond, o primeiro relatório de impacto devidamente auditado já foi emitido e publicado. À data de hoje, foram utilizados pelas Aldeias SOS Cabo Verde aproximadamente 78% dos fundos proporcionados, o que é já respeitável, mas acreditamos que essa proporção chegará a 100% até ao final do prazo estabelecido na emissão.

No que concerne à emissão azul, iib Marine and Ocean-based Blue Bond, o relatório de impacto relativo ao primeiro ano da emissão será publicado brevemente, mas podemos adiantar que aproximadamente 72% dos fundos foram alocados a projetos elegíveis num muito curto espaço de tempo, ou seja acima do padrão considerado como boa prática, estabelecido a 70%.

A emissão verde, iib Renewable and Energy-Efficiency Green Bond, foi emitida sensivelmente há um mês, estando o iibCV a acompanhar o Hospital Universitário Agostinho Neto no desenvolvimento dos projetos afetos a esta emissão. No final do primeiro ano da emissão será publicado e divulgado o relatório de impacto.

Por último, o nosso Relatório de Sustentabilidade também foi publicado e divulgado, devidamente auditado quanto à informação que nele é providenciada.

Os cabo-verdianos podem confiar no iibCV? 

Sim. Temos consciência da nossa humilde contribuição para a economia de Cabo Verde e das suas pessoas, refletida na motivação e concretizações da nossa equipa.

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