Cabo Verde: Como combater efeitos das alterações climáticas?
SOURCE: [Deutsche Welle]
Cabo Verde continua a fazer parte dos Estados insulares mais afetados pelas alterações climáticas no mundo. Por isso, o país está em busca de medidas concretas para combater os impactos das alterações climáticas.
Esta semana, o arquipélago participou na quarta Conferência dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS), em Antígua e Barbuda, nas Caraíbas com o aumento do financiamento climático entre os pontos altos da agenda.
Em entrevista à DW, Corrine Almeida, bióloga oceanógrafa e docente universitária em Cabo Verde, defende que é necessário dar mais atenção às investigações para que se possam adotar medidas mais assertivas no combate às mudanças que estão a acorrer no país.
Explica ainda que os maiores efeitos das alterações climáticas continuam a ser as secas e as inundações no país e a tendência é que estas situações extremas tendem a ser mais frequentes ao longo dos anos.
Corrine Almeida levanta ainda a questão de falta de especialistas em determinadas áreas que possam contribuir de facto nas investigações relacionados com as alterações climáticas.
DW África: Cabo Verde é um dos Estados insulares mais afetados pelas alterações climáticas, apesar de pouco contribuir para o aquecimento global. Quais são os impactos ou riscos que o país enfrenta relacionados com as alterações climáticas?
Corrine Almeida (CA): Cabo Verde ao longo da sua história tem enfrentado longos períodos de seca, mas para além desses longos períodos de seca o que também é característico em Cabo Verde é que o país tem algumas ilhas bastantes montanhosas . Então, pela elevação das ilhas geralmente quando chove, principalmente em setembro, tende a ser torrencialmente. Temos esses dois extremos e realmente a tendência é que estas situações extremas tendem a ser mais frequentes ao longo dos anos com a questão das alterações climáticas.
Uma outra questão é que, muitas das ilhas são muito planas e, por conseguinte, com a subida do nível dos oceanos, também tendem a sofrer. Depois temos também as próprias praias que poderão sofrer mais erosão.
DW África: Além esses problemas, que outros problemas que sobrepõem aos efeitos das alterações climáticas em Cabo Verde?
CA: Nós temos uma deficiência de recursos humanos, há falta de meteorologistas e oceanógrafos nesse país e, por conseguinte, há esta necessidade de adotarmos recursos humanos capacitados nestas áreas exatamente para que possamos depois realizar investigação e monitoramento apropriado.
Também ao nível marinho, a questão que sobrepõe aos efeitos das alterações climáticas é a pesca. Os pescadores vêm se queixando muito de falta de recursos. Esse é um problema, de facto, que se sobrepõe também às mudanças climáticas.
DW África: O arquipélago tem chamado a atenção da comunidade internacional para os problemas que os pequenos Estados Insulares enfrentam devido às alterações climáticas, mas o que tem sido feito na prática?
CA: O que eu sei é que com o apoio da cooperação internacional Cabo Verde está neste momento a trabalhar na adoção políticas e estratégias em vários setores para enfrentar as mudanças climáticas. Mas, por outro lado, tem.se feito muito no sentido de aumentar a capacidade do país de geração energia com base em energias renováveis. Por exemplo, neste momento, a penetração de energias renováveis no nosso sistema elétrico é na ordem dos 25%. Cabo Verde tem metas bastante ambiciosas nesse sentido.
DW África: Que medidas urgentes devem ser adotadas para combater os efeitos das alterações climáticas em Cabo Verde?
CA: No meu ponto de vista, para que se tenham de facto boas medidas é necessário que se tenha um sistema de monitoramento implantado, tanto ligado à parte terrestre assim como à parte marinha e também ter investigação associada, exatamente para que se possa conhecer as mudanças que estão ocorrendo. Porque muitas mudanças que às vezes acontecem não se sabe dizer ao certo que são efeitos das alterações climáticas ou não. Então, é necessário uma investigação aplicada para responder essas questões e para que se possam tomar medidas adequadas e mais assertivas.