Em casa de ferreiro, espeto de pau
Colunista

Em casa de ferreiro, espeto de pau

Os clássicos do nosso cancioneiro popular já têm destaque no coração de todos os caboverdianos.

A Morna vencedora dos CVMA deste ano, é um clássico do cancioneiro popular e tem versões gravadas nas vozes de Nhô Balta e da Cesária Évora, e numa versão instrumental de Bau.

“Nova Aurora” é uma Morna de intervenção, da autoria do saudoso Valdemar Lopes da Silva; uma visão profética de um Cabo Verde livre do regime colonial.

A Morna premiada, interpretada pela Cremilda Medina, foi nomeada juntamente com duas outras Mornas, de grande qualidade, ambas originais e do mesmo autor, Tibau Tavares: “Amor Profundo”, interpretada pela Bertânia Almeida e “Negra do mato”, interpretada pelo próprio autor.

Como é que isto passa despercebido ao júri?

No ano passado denunciei publicamente o erro na nomeação da Morna “Stória di nha vida”, letra de Djunga de Biluca e música de Luís Morais, que tinha sido lançada uma versão em 2019 pela voz da Mariana Ramos, com a participação de Natch, e que apareceu em concurso, sendo o Natch o único nomeado, excluindo a Mariana Ramos. A nomeação foi anulada e retirada do concurso.

Desta vez o júri opta por premiar uma versão de um clássico, em detrimento de duas Mornas originais.

Se segundo os regulamentos da organização “os CVMA premeiam os que contribuem para a vitalidade da Música Cabo-verdiana feita por Cabo-verdianos à volta do mundo, desde intérpretes, vocalistas e instrumentistas a compositores, letristas e arranjadores (…) [e] constituiu um forte incentivo para os artistas nacionais, não só na produção de novos trabalhos, como na aposta e melhoria constante da qualidade dos mesmos.”

A CVMA ao agir assim, está a castrar quaisquer iniciativas de criação e perpetuação deste género musical, considerado a Alma do Povo caboverdiano.

Os clássicos do nosso cancioneiro popular já têm destaque no coração de todos os caboverdianos.

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