Surgiu em 2019 enquanto website de partilha de expressões das ilhas. Em 2022 passou a incorporar as traduções linguísticas de inglês para o crioulo cabo-verdiano. Desde então, é possível, através da kriolish.com, ter acesso a expressões da tradição oral cabo-verdiana e a traduções de palavras, todas com áudio de pronuncia.

A plataforma tem se revelado útil para as comunidades cabo-verdianas na diáspora, nomeadamente nos EUA, que tem aprendido o crioulo e se aproximado das raízes.

“Temos recebido muitos comentários excelentes do público cabo-verdiano-americano. Cada vez que alguém descobre a Kriolish, a reação é sempre ‘tenho procurado por algo assim há muito tempo’. Isto é muito encorajador, pois valida que o que estamos construindo agrega valor”, explica ao A NAÇÃO Edmar Gonçalves, um dos fundadores da Kriolish.

Facilitar o acesso à língua cabo-verdiana

Além dos descendentes de Cabo Verde, Edmar acredita que a Kriolish revela-se útil para pessoas em cargos públicos e que procuram envolver-se com a comunidade cabo-verdiana local, mas também por membros de programas governamentais como o Corpo da Paz nas missões às ilhas, bem como pessoas que prestam serviços de emergência a cabo-verdianos que não são fluentes em inglês, nos EUA.

“Nossa missão é tornar o crioulo o mais acessível possível porque, como ouvimos do público, o principal desafio não é a vontade de aprender o crioulo, mas sim encontrar recursos para isso”, entende.

A ‘Kriolish Expressions’ tem se revelado uma das principais solicitações dos utilizadores o que, segundo Edmar, que vive nos EUA, mostra que as pessoas além de estarem interessadas em aprender a língua, querem se conectar com a cultura em Cabo Verde.

Oficialização dificulta, mas não é um problema

Tendo em conta a existência de várias variantes do crioulo cabo-verdiano e para facilitar o processo de tradução, a plataforma Kriolish disponibiliza as traduções em variantes do Barlavento e do Sotavento. Esta divisão, segundo explica o co-fundador, permite dar às pessoas uma “porta de entrada no crioulo” e entender a diversidade da língua cabo-verdiana.

Segundo aponta, embora seja importante que cada ilha obtenha a representação que merece, ao se dividir as traduções em Barlavento e Sotavento, cada pessoa pode se aproximar da variante de interesse e, a partir daí, prosseguir com a própria educação na aprendizagem da língua.

O facto da língua cabo-verdiana ainda não ser uma língua oficial e de não existir, de facto, uma padronização na escrita do cabo-verdiano, pode dificultar as traduções, na percepção de Edmar Gonçalves, mas acredita que “quer a língua se torne oficial ou não”, a Kriolish continuará com sua missão.

Utilizadores podem colaborar

Isto é, porque qualquer pessoa com uma conta cadastrada na Kriolish pode adicionar uma expressão/tradução com definições e exemplos de uso em texto, imagens, bem como áudio de pronúncia que pode ser gravado diretamente no aplicativo, que passam, posteriormente, por um processo de verificação.

Neste momento, a Kriolish proporciona apenas a tradução do inglês para o crioulo, mas os mentores da iniciativa dizem já trabalhar para promover o inverso e acrescentar, futuramente, novas línguas e assegurar a presença do crioulo nas tecnologias, nomeadamente nas redes sociais.

A Kriolish foi co-fundada por Edmar Gonçalves e Suely Neves, nascidos nas ilhas de São Vicente e Sal, respectivamente. Hoje a equipa é composta por cinco pessoas que residem em Cabo Verde e nos Estados Unidos. 

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 848, de 30 de Novembro de 2023