Numa nota enviada, o artista conta que a peça foi encomendada pelo Teatro do Bairro Alto (TBA), Portugal.

Djam Neguin explicou que é uma obra artística que explora a ideia de reversibilidade sonora a partir do entrelaçamento de testemunhos, evocações, rezas, mandingas, oratórias, confissões, canto-poemas, vocalizações e inflexões vocais femininas, reais e geradas por Inteligências Artificiais.

“Tendo como fio fonográfico um discurso remoto de Cabral, pela ocasião do dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, cria-se uma experiência de multiversidade hibridizada por sonoridades que cruzam o real e o virtual, conjeturando outras dimensões de memória, temporalidade e experiência sensorial”, sublinha.

Esta peça sonora, desenvolvida pelo artista transdisciplinar Djam Neguin é parte constituinte de uma série das manifestações e intervenções artísticas para assinalar o centenário do nascimento de Amílcar Cabral e os 50 anos do 25 de Abril.

“É um projecto que pretende, no âmbito das celebrações do centenário do nascimento de Amílcar Cabral, recordar a importância das mulheres na guerra colonial, bem como o pensamento feminista de Cabral. A peça foi costurada a partir de um discurso de Amílcar Cabral, disponível gratuitamente no Youtube, sobre o dia 8 de Março”, indica.

O manifesto feminista, conforme o artista, serviu de inspiração para a criação de uma experiência sonora com participação de mulheres negras de diversas faixas etárias.

“Na minha peça participam ineditamente a minha avó e a minha prima mais nova. São exploradas várias forças femininas – o choro carpideiro e a reza como energias de canalização espiritual – o canto e o murmúrio como formas de narrar e reescrever o real. Foram usadas também vozes produzidas por inteligência artificial, que trazem ainda esta camada de relação com o que já vivemos hoje, com os novos e futuros tempos”, explicou o artista.

O projeto conta com excertos de poemas de Vera Duarte, e participação de vozes como Fattú Djakité, Ineida Moniz, Sandra Horta, Rosy Timas, Bulan Kora, Anaís Isabel, Isabel Mosso e Nereida Delgado de Cabo-Verde, a artista luso-angolana Bibiana Figueiredo, duas atrizes lusodescendentes em Portugal, Inês e Isabel Sousa e a batucadeira cabo-verdiana residente em Lisboa, Ilda Vaz. 

A arte cover do projecto é da autoria da artista plástica cabo-verdiana Simone Spencer.