Por que razão não reconhecer que há problemas com a qualidade da Educação em Cabo Verde?
Colunista

Por que razão não reconhecer que há problemas com a qualidade da Educação em Cabo Verde?

Em Cabo Verde, nós não dispomos de Sistemas Nacionais de Garantia da Qualidade da Educação. Esses não existem, nem para o Ensino Básico e Secundário, e nem para o Ensino Superior. É obrigação do Estado criá-los, como referenciais, para que as escolas e as Universidades possam servir-se dos mesmos e criarem os seus Sistemas Internos de Garantias da Qualidade. Com esses procedimentos, sim, o Estado pode avançar com as avaliações externas para verificar as conformidades e, por essa via, promover a qualidade. Sem esses instrumentos e sem a tomada de um conjunto de outras medidas estruturantes, designadamente a definição de uma Política Nacional para a Docência, falar da qualidade da Educação é falar no vazio.

Há cerca de duas semanas, chegou a notícia de que Portugal pensa introduzir um “semestre zero” para tentar superar as fragilidades com chegam os nossos estudantes. Na semana passada, o Banco Mundial disse que há problemas com a qualidade da Educação, particularmente, no Ensino Secundário. Mas também disse que há problemas com a qualidade dos Professores e com o modelo de ensino. Por esses dias, de forma inédita, assistimos manifestações de estudantes das Escolas Secundárias do Sal, São Vicente e Ribeira Grande de Santo Antão. De entre os aspetos da manifestação, falaram da qualidade do ensino. Nós que estamos no ensino superior sentimos isso e muitos alunos, conscientemente, reconhecem que não estão a ser adequadamente preparados para o ensino superior.

Bem, em face de tudo isso, o Ministro da Educação não reconhece que há problemas com a qualidade da Educação e não vê a necessidade de se criar um “semestre zero” por Portugal.  Que ilações pode-se tirar? Se não se está a ver problemas com a qualidade da Educação, como é que se pode tomar medidas para corrigir?

Em abono da verdade, devo dizer que não é de agora que os governantes têm dificuldades em reconhecer problemas com a qualidade da Educação em Cabo Verde. Mas, também, e, talvez por isso (e não só), nos nossos 50 anos de percurso, não conseguimos resolver vários problemas que são ditos estruturantes, apesar dos avanços conseguidos, no geral e que deve ser reconhecido.

Na semana passada, o Banco Mundial disse que o nível do Capital Humano em Cabo Verde é baixo e que não dá respostas adequadas aos desafios do País. O que mais falta para que os responsáveis reconheçam que há problemas com a qualidade da Educação?

Uma coisa é certa, se não reconhecermos que há, sim, problemas sérios e estruturantes com o nosso Sistema Educativo e se não conseguirmos ligar, de forma efetiva (não ficar pelos discursos), a qualidade da Educação ao processo de desenvolvimento (com políticas integradas), fica-nos muito difícil tirar o País da situação em que se encontra e continuaremos a não ter respostas adequadas para os nossos principais desafios e, sobretudo, para os jovens. Vamos ter que nos contentar com o aumento do turismo, sim (com as suas consequências boas e más), a remessa dos emigrantes, e pequenas atividades económicas de sobrevivência, mas que não constituem bases económicas suficientes para a transformação estrutural do País.

Sem medidas de políticas robustas que promovam o desenvolvimento do Capital Humano e, consequentemente, o desenvolvimento do Capital Social (este último traduzido em instituições fortes), para alavancar, de forma estrutural, o desenvolvimento económico, social e cultural, continua comprometido o nosso processo de desenvolvimento.

A qualidade da Educação constrói-se com processos complexos e custosos, é certo, mas não há outra alternativa! Compreender isso é fundamental, mas, mais do que compreender, é preciso conhecer os processos e os seus mecanismos. Do meu ponto de vista, é aqui que reside o nosso problema: O Amadorismo na Administração Educacional. Fala-se da qualidade e espera-se que ela aconteça, ou mesmo que já exista.

Em Cabo Verde, nós não dispomos de Sistemas Nacionais de Garantia da Qualidade da Educação. Esses não existem, nem para o Ensino Básico e Secundário, e nem para o Ensino Superior. É obrigação do Estado criá-los, como referenciais, para que as escolas e as Universidades possam servir-se dos mesmos e criarem os seus Sistemas Internos de Garantias da Qualidade. Com esses procedimentos, sim, o Estado pode avançar com as avaliações externas para verificar as conformidades e, por essa via, promover a qualidade. Sem esses instrumentos e sem a tomada de um conjunto de outras medidas estruturantes, designadamente a definição de uma Política Nacional para a Docência, falar da qualidade da Educação é falar no vazio.

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