O Banco de Cabo Verde anunciou, na passada sexta-feira, a subida das taxas de juro.

No mais recente Relatório de Política Monetária o banco central explica que a “actuação da autoridade monetária nacional em 2023, conjugada com o facto de o BCE ter decidido efectuar uma pausa nos movimentos de subida das taxas de juro, num contexto em que a inflação começou a dar sinais de desaceleração, contribuiu para conter o alargamento do diferencial, que, ainda assim, continua em níveis elevados”.

Dessa forma, o BCV decidiu aumentar a “taxa de juro directora em 25 pontos base, de 1,25 para 1,50 por cento; Aumentar a taxa de juro das Facilidades Permanentes de Cedência de Liquidez em 25 pontos base, de 1,50 para 1,75 por cento; Aumentar a taxa de juro das Facilidades Permanentes de Absorção de Liquidez em 25 pontos base, de 0,70 para 0,95 por cento; Aumentar a taxa de juro de Redesconto em 25 pontos base, de 2,50 para 2,75 por cento, destinando-se a operações de carácter excepcional, para fazer face às necessidades de liquidez por parte da banca. E, manutenção do coeficiente das Reservas Mínimas de Caixa (DMC) nos actuais 10 por cento, visando a manutenção da estabilidade do sistema financeiro nacional face às condições actuais do mercado e aos desafios que se colocam à actividade bancária”.

A economia nacional cresceu 4,6% no último semestre do ano passado, um valor que, refere o Banco de Cabo Verde, fica bastante abaixo dos 16,6% registados no período homólogo.

“A moderação das exportações líquidas e do consumo privado e a redução do investimento e, do lado da oferta, o abrandamento registado no VAB dos sectores ligados ao turismo (alojamento e restauração, transportes e comércio) e nos impostos líquidos de subsídios arrecadados no período, bem como, a queda do VAB do sector da construção”, justificam a quebra no crescimento económico, aponta o banco central no Relatório de Política Monetária.

Em termos anuais, continua o documento do BCV, o crescimento foi de 5,1% “ficando muito abaixo do crescimento registado em 2022, de 17,4 por cento, justificado: pelo desvanecimento gradual dos efeitos positivos de arrastamento do processo de recuperação da crise pandémica; pela conjuntura externa menos favorável, com a estagnação económica verificada nos principais parceiros económicos do país, em particular, na Área do Euro e no Reino Unido, com implicações ao nível da procura turística, que foi mais moderada; pelos efeitos adversos da inflação (ainda elevada) sobre os rendimentos reais e sobre os custos dos factores de produção; pelos critérios de aprovação pelos bancos de novos empréstimos mais restritivos, particularmente, para as empresas e, por alguma incerteza sobre a oferta e os preços da energia e sobre a confiança dos agentes económicos, perante as preocupações de possíveis perturbações na oferta resultantes de factores geopolíticos, incluindo as sanções aplicadas à Rússia e o conflito no Médio Oriente”.

Previsões para 2024 e 2025

Para este ano o Banco de Cabo Verde prevê que o crescimento económico estabilize em torno dos valores registados em 2023 tendo em conta factores como “a dissipação dos efeitos positivos de arrastamento do processo de recuperação da crise pandémica, com a reabertura da economia e a retoma do turismo a perderem ímpeto; a conjuntura económica ainda ténue dos principais parceiros económicos (em particular, da Área do Euro e Reino Unido), caracterizadas por políticas monetárias restritivas e elevados custos de financiamento, com impacto na moderação da procura externa turística; condições mais restritivas na oferta de crédito interno; e, a incerteza decorrente das tensões geopolíticas, embora mitigada pelo impacto positivo da baixa inflação na melhoria gradual dos rendimentos reais das famílias”.

“Entretanto, não é expectável que as perturbações do frete marítimo na região do mar vermelho imponham novas restrições significativas no abastecimento global e, por extensão, a Cabo Verde”, acrescenta o documento.

Já para o próximo ano, o BCV prevê um crescimento mais forte do PIB nacional. A previsão aponta para um crescimento de 5,4% no próximo ano.

Inflação

Relativamente à inflação o banco central explica no Relatório de Política Monetária que esta “continuou a reduzir no segundo semestre de 2023, beneficiando da queda dos preços dos produtos energéticos e do abrandamento dos preços dos produtos alimentares no mercado internacional, da fraca procura, bem como, de efeitos de base descendentes, fixando-se no final do ano de 2023, em 3,7% em termos médios anuais (o que se compara com 7,9% de 2022)”.

No entanto, acrescenta o BCV, o ritmo de crescimento dos preços de alguns serviços, sobretudo, os relacionados com férias organizadas e alojamento continuou a aumentar, num contexto de procura elevada por estes serviços, traduzindo-se numa inflação subjacente (ou core) persistente face à inflação global.

“Não obstante esperar-se alguma volatilidade nos preços dos produtos energéticos devido a questões geopolíticas, antecipa-se que para 2024 e 2025, a taxa de inflação mantenha uma trajectória descendente, atingindo níveis mais consistentes com o objectivo de estabilidade dos preços. Prevê-se que a inflação média anual deverá baixar para 1,2% em 2024 e 1% em 2025”, conclui o banco central. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1172 de 15 de Maio de 2024.