A psicóloga responsável pela campanha de saúde mental, “Maio Furta-Cor”, pediu  esta terça-feira  às grávidas para procurarem apoios e falarem abertamente dos sentimentos, sem medo, desde a concepção até o pós-parto.

Maria Dias deixou este apelo em declarações à Inforpress, após a sessão de abertura do workshop regional enquadrado no Dia Mundial da Saúde Materna, que está a decorrer na Delegacia de Saúde de Santa Catarina, envolvendo profissionais de toda a Região Sanitária Santiago Norte (RSSN), ligados ao sector.

Segundo esta responsável, durante a gravidez a mulher “fica invisível”, mas que é necessário cuidar dela para que ela possa cuidar da criança que está à espera, e que também é preciso que a mulher fale realmente do que sente, sem medo de estigma, ressaltando que a saúde mental, em si, já é estigmatizada de uma forma geral e no campo da maternidade é mais ainda.

Nesse sentido, explicou que o objectivo desta campanha, que tem como objectivo sensibilizar a população sobre a saúde mental materna, reforçando que o nome “Furta-cor” é porque a maternidade não tem cor.

“Mostrar que apesar de ser uma época, uma etapa bonita da mulher, também é um momento em que ela está mais vulnerável a adoecer mentalmente”, disse, citando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que aponta que cerca de 20 por cento (%) das grávidas podem ter complicações psiquiátricas ou psicológicas durante esse período.

Sobre o workshop, explicou que tem como intuito sensibilizar os profissionais da saúde, capacitá-los para que possam conhecer os factores de risco, os sinais de alerta e como é que devem cuidar dessas grávidas.

Relembrou que a OMS, em 2022, lançou um guião de como é que se deve cuidar dessas mulheres, mas que é necessário discutir entre os profissionais, como é que podem dar melhor suporte às mulheres durante o período puerperal, que é gravidez, parto e pós-parto, reforçando que até um ano após dar à luz, a mulher pode ter alguma complicação emocional.

Questionada sobre a maior preocupação nesta área no país, indicou que não há uma política específica, direccionada para a saúde mental materna, embora existam o Plano Nacional e o Plano Estratégico Nacional da Saúde Mental, mas que não apresenta directrizes específicas para a saúde mental materna, além também de defender a necessidade de se criarem políticas voltadas para o cuidado das mulheres.

Por seu turno, a médica e delegada de Saúde da Delegacia de Santa Catarina, Ludmila Miranda, mentora deste workshop, evidenciou que este foi pensado no quadro da campanha, para transmitir informações e dar mais ferramentas aos profissionais, além de buscar alguns subsídios que permitam a prestação de um melhor cuidado às mulheres desde a fase pré-concepcional até o pós-parto.

Além de informar e de sensibilizar, ressaltou que pretendem criar algum plano de acção para a melhoria da qualidade de atendimento nessa questão, reforçando que em Santa Catarina têm um programa que visa os cuidados pré-concepcionais até o pós-parto, com maior enfoque na questão da depressão pós-parto.  

“Damos atendimento multissectorial de forma a ajudar e acompanhar todo o processo de gravidez e seguimento durante o pós-parto e esses profissionais têm algumas ferramentas de forma a identificarem também os sinais de alerta durante esse processo”, finalizou.

Já a enfermeira e participante Neida Rompão, que tem trabalhado em diversos sectores na saúde reprodutiva e agora directamente com as grávidas, considerou que cuidar de uma grávida é um processo de receptividade, explicando que as duas têm de ter uma conexão e esta conexão começa primeiramente pela conversa, ou seja, nunca atender uma paciente iniciando logo a consulta, mas sim dar espaço para conversa, desabafo.

Aliás, reforçou que no seu caso tem sido mais uma ouvinte para as suas grávidas, alertando também que cada gravidez é uma gravidez, cada grávida é uma grávida, o que implica um tratamento diferenciado de paciente para paciente, de acordo com a necessidade de cada uma.

 

A Semana com Inforpress