Mindelo, 13 Mai (Inforpress) – O jornalista Mário Pedro Caetano, da agência Lusa, considerou hoje, no Mindelo, que na cobertura de acidentes e incidentes aeronáuticos e aéreos o jornalista deve, logo de início, ter “cabeça fria” e evitar exposição de imagens das vítimas.

Na abertura de uma acção de formação sobre acidentes e incidentes aeronáuticos e marítimos, destinada a jornalistas, e promovida pelo Instituto de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáuticos e Marítimos (IPIAAM), na qualidade de formador Mário Pedro Caetano lembrou que um acidente “não é só o acidente em si”.

“Não causa apenas danos materiais, tem sempre implicações, tanto económicas, sociais como legislativas”, reforçou, e, por vezes, indicou, as redes sociais exploram exactamente o oposto do que a regulação do jornalismo, em termos deontológicos, deveria fazer.

Por isso, continuou, a formação de dois dias, com uma carga horária de 12 horas, dará destaque “considerável” a questões do foro da deontologia dos jornalistas porque, sintetizou, tudo o que tem a ver com as vítimas e mostrar isso ao leitor, ao ouvinte, ao espectador, “não é fácil”.

“Tem a ver com sentimentos e com a parte profissional do jornalismo, e essa área tem que ser desenvolvida, tem que ser trabalhada com muito cuidado, para não chocar, porque esta é uma das nossas funções, mas focando sempre a parte da informação de forma isenta e precisa, mesmo a parte da informação de risco ou a informação que é mais sensível”, precisou o formador.

“Por isso temos que limpar essas áreas e tentar superar da melhor forma como vamos reportar, pois um público bem informado é um público que forma melhor a sua opinião”, reforçou.

Neste sentido, Mário Pedro Caetano exemplificou com uma experiência que viveu recentemente quando esteve presente num acidente na Europa, com um avião militar, numa zona de conflito.

“Foi terrível, porque a decisão não é fácil, chegar, ver restos de corpos, mais a envolvente social e da desgraça em si, e de crise, não é fácil”, precisou.

Num cenário deste, o jornalista advoga: “É uma zona, quase um limbo, entre a parte emocional e a parte informativa, e temos que nos afastar, temos que ser coerentes, não esquecer o código deontológico que temos, mas desmistificar a coisa e colocarmos todo o nosso profissionalismo, a nossa isenção, o nosso rigor, ao serviço do leitor, do espectador ou do ouvinte”, finalizou Mário Pedro Caetano.

Da parte do IPIAAM, o presidente interino, Jorge Rodrigues, indicou que a acção de formação é o início do estabelecimento de uma colaboração entre a comunicação social e o instituto que dirige pois, sintetizou, um acidente, seja do lado aeronáutico, seja do lado marítimo, sempre chama “muita atenção”.

“Tendo em conta que o jornalismo é considerado uma defesa dos interesses do público, estamos a tentar estabelecer essa colaboração para que quando tenham de passar a informação ao público, a informação seja passada da forma mais correcta possível”, referiu Jorge Rodrigues, pois, sintetizou, uma informação mal transmitida pode prejudicar o processo de investigação.

Questionado se o IPIAAM está aberto a passar as informações aos jornalistas no tempo certo em questões relacionadas com acidentes e incidentes aeronáuticos ou marítimos, o presidente interino referiu que a instituição estará “sempre aberta para passar informações” aos jornalistas, até porque o objectivo do IPIAAM é identificar a causa de um acidente, seja marítimo ou aeronáutico.

“O IPIAAM não identifica o culpado, apenas identifica a causa, para que, de facto, o acidente não aconteça da mesma forma e não limitará os meios de comunicação social no que diz respeito à informação, daí a promoção deste treinamento”, finalizou Jorge Rodrigues.

A formação de dois dias tem uma vasta componente teórica em matéria do jornalismo em contexto dos acidentes nos sectores da aviação e marítimo, e a pretensão é fornecer aos participantes conhecimentos relativamente à complexidade destes eventos e uma ferramenta para garantir a cobertura “precisa, sensível e informativa” dos mesmos, os quais envolvem questões técnicas, regulatórias e de segurança.

 

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