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Eu sou Ana, tenho 25 anos, um namorado, e um filho que é a luz dos meus olhos. Por fora, a minha vida parece normal, até feliz. Mas, dentro de mim, carrego um segredo pesado, um fardo que a cada dia parece mais difícil de suportar. Vivo uma vida dupla, uma vida que meu namorado, minha mãe, e meus irmãos não imaginam que existe. Trabalho no "assunto", como chamamos na rua. Sou uma profissional do prazer.

Tudo começou há alguns anos, quando o desespero bateu à porta. Cresci numa família numerosa, sem muitas condições. Não terminei os estudos porque precisava ajudar em casa. Consegui um emprego num bar, mas o salário era uma miséria, não dava para sustentar nem a mim mesma, quanto mais ajudar minha família. No bar, os homens mais velhos, os chamados "tios", começaram a fazer propostas. Dinheiro fácil em troca de daquilo. No início, eu recusava. Eu tinha vergonha, medo, mas depois que perdi o emprego, as coisas ficaram difíceis demais.

Aceitei a primeira oferta, depois a segunda, e antes que eu me desse conta, já estava nessa vida. Não foi uma decisão fácil, mas parecia a única saída. Os "tios" me ajudavam a pagar o aluguel, a comprar comida, a cuidar da minha família. Eu sempre pensei que seria algo temporário, uma fase até que eu encontrasse um emprego decente. Mas os anos passaram, e aqui estou eu, ainda nesse mundo, presa nele.

Agora tenho um namorado e um filho. Eles são a minha família, a minha vida. E eu sou a mãe e a companheira que eles pensam que conhecem. Mas não sou, sou outra pessoa quando a noite cai, quando estou com os clientes. E isso me mata por dentro. Vivo com medo, medo de que descubram, de que meu filho cresça e um dia descubra quem sua mãe realmente era. Tenho vergonha, uma culpa que nunca desaparece.

Já pensei em contar tudo, em confessar para o meu namorado, para minha mãe. Mas como? Como explicar que eu me deito com outros homens por dinheiro? Que eu levo uma vida dupla? Eu sei que eles não entenderiam. Eles me amam, confiam em mim. E eu sei que essa verdade destruiria tudo o que temos.

Mas é tão difícil continuar assim. Não há emprego, não há oportunidades, e o amor, por mais forte que seja, não paga as contas, não enche a barriga. E é por isso que ainda estou aqui, nesse "assunto". Eu tento ser discreta, preservar a minha imagem, a minha vida. Mas o medo é constante, o medo de que alguém descubra e que tudo desmorone.

Às vezes, eu me pergunto se algum dia terei coragem de sair dessa vida, de contar a verdade, de ser livre desse peso que carrego no peito. Mas, por enquanto, só posso continuar, dia após dia, com essa máscara, essa mentira que se tornou minha realidade.

Eu só queria que as coisas fossem diferentes, que eu pudesse ser apenas Ana, uma mãe, uma namorada, sem segredos, sem esse medo constante. Mas o mundo não é justo, e aqui estou eu, vivendo uma vida que nunca desejei, mas que, de alguma forma, escolhi.