Adriano Reis, santo-antonense e contador de estórias, iniciou uma trilogia bilíngue sobre a Cidade Velha, explorando suas tradições e história. A primeira parte, “Jornada Castanha”, já lançada, foca-se nos monumentos históricos. A segunda, “Jornada Azul”, prevista para Abril de 2025, destaca a relação com o mar. A terceira e última parte, “Jornada Verde”, com a previsão para 2026, celebra a vegetação local. A trilogia visa preservar e celebrar a cultura crioula.

Emigrante em Portugal há vários anos, Adriano Reis encontra-se na Ribeira Grande de Santiago a recolher costumes, lendas, crenças, e testemunhos dos guardiões de memórias. Iniciado a sua conexão com a Cidade Velha em 2021, foi através do projecto “Bebi na Fonti”, em parceria com a Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago, que encontrou apoio para sua investigação sobre os costumes e a tradição oral da região.

Reis, que se identifica como “Sampadjdu”, alcunha dada as pessoas que não nasceram na ilha de Santiago, sentiu a necessidade de compartilhar as vivências e a profundidade de uma cultura que, até então, era desconhecida para ele. “Percebi que era fundamental conhecer e partilhar com os meus conterrâneos e não só”, confessou ao A NAÇÃO. Destaca que muitos de seus ouvintes na Europa são descendentes de imigrantes, principalmente cabo-verdianos, o que reforça a importância de preservar e divulgar a cultura crioula.

Decidido a contar essa história, Adriano optou por escrever uma trilogia bilíngue, em português e na variante de Santiago da língua cabo-verdiana. A obra pretende retratar crenças, lendas e estórias vividas pelos antepassados na “Solera da Porta”, respeitando as tradições locais. “É uma trilogia que pretende trazer as cores que identificam a Cidade Velha como património imaterial da humanidade”, afirma.

O livro

A primeira parte da trilogia, “Jornada Castanha”, já nas livrarias, representa a cor dos monumentos e foi lançada na “Solera Porta”, um local guardado por uma das figuras mais respeitadas da Rua Banana. Esta rua, a primeira urbanizada pelos europeus ao sul do trópico no século XV, é um símbolo da rica história e herança cultural da Cidade Velha, classificada como Património Mundial pela UNESCO em 2009.

“Jornada Castanha” traz 15 contos, com especial atenção aos “guardiões de memórias”, recolhidos junto dos anciões. O lançamento oficial ocorreu em Abril, após apresentações em Fevereiro no Festival das Migrações e Cidadania no Luxemburgo, em Março no Centro Cultural de Cabo Verde em Lisboa, em Junho no Festival Salencena, e em Agosto na Associação Cabo-verdiana de Bule, na Suíça.

A segunda parte da trilogia, “Jornada Azul”, será lançada em Abril do próximo ano. Dela constam histórias ligadas aos pescadores, crenças, lendas, dizeres populares, sabores e saberes das gentes, reflectindo o azul do mar que banha a Cidade Velha e guarda memórias dos ancestrais. Esta parte da trilogia é dedicada ao mar, um elemento vital e simbólico para a Cidade Velha e Cabo Verde como um todo.

Com esta trilogia, Adriano espera não apenas preservar essas histórias, mas também criar uma ponte entre as gerações, permitindo que os mais jovens compreendam e valorizem a importância do mar na formação da identidade crioula. “Será uma celebração das tradições marítimas e uma homenagem aos pescadores e suas famílias, que são os verdadeiros guardiões dessas memórias”, adianta. O lançamento da terceira e última parte, “Jornada Verde”, está previsto para Abril de 2026. Esta parte celebrará a cor verdejante que caracteriza a Cidade Velha, especialmente o vale que deu nome ao município, completando assim a trilogia que visa preservar e celebrar a essência da cultura crioula para as futuras gerações.

Projecto “Bebi na Fonti”  

O projecto “Bebi na Fonti” de Adriano Reis é uma iniciativa cultural que visa preservar e divulgar a tradição oral cabo-verdiana. Contador de histórias e activista cultural, o entrevistado ao A NAÇÃO começou este projecto em 2018. Ele se dedica a compartilhar histórias e contos que refletem a identidade e a cultura de Cabo Verde. Recentemente, o projeto resultou na publicação do livro “Jornada de um sampadjudo na ilha de Santiago”, que reúne várias dessas histórias. Além disso, Adriano Reis realiza oficinas e eventos de contação de histórias, como a oficina “Stória.  Stória” na Cidade Velha.

Quem é o Adriano Reis?

Adriano Reis é um actor e dinamizador sociocultural cabo-verdiano. Santo-antonense, iniciou sua carreira artística entre os 17 e 19 anos na Escola Salesiana, em São Vicente. Desde então, tem- -se dedicado a promover a integração e o diálogo intercultural através de diversas actividades culturais e educativas. E é também director artístico do Aqu’Alva Stória – Encontro Internacional de Narração Oral da Lusofonia.

João A. do Rosário

Publicado na edição 895 do Jornal A Nação, de 24 de outubro de 2024

PUB

Adicionar um comentário

Faça o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *