O povo sudanês está a viver um "pesadelo" de fome e doenças e "violência étnica maciça", especialmente no Darfur, e a sofrer cada vez mais, dia após dia, disse esta segunda-feira, 28, o secretário-geral da ONU, o português António Guterres.

Após 18 meses de guerra entre o exército sudanês, chefiado pelo general Abdel Fattah al-Burhane, e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) do seu antigo adjunto, o general Mohamed Hamdane Daglo, "o sofrimento aumenta de dia para dia, com 25 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda", lamentou António Guterres perante o Conselho de Segurança.

Milhares de civis mortos, violações "generalizadas" e outras "atrocidades indescritíveis" são cometidas no país, pelo que "o povo sudanês está a viver um pesadelo de violência", condenou o secretário-geral da ONU, "horrorizado", tanto pelos ataques das RSF contra civis em El-Fasher, no Darfur, como pelos ataques das forças sudanesas em Cartum, capital do Sudão, alvo de ataques aéreos.

Mas a população sofre também de um "pesadelo de fome", com mais de 750.000 pessoas a enfrentar uma insegurança alimentar "catastrófica", um "pesadelo de doenças", com a cólera, a malária, a dengue e o sarampo a "propagarem-se rapidamente", e um "pesadelo de deslocações", com mais de 11 milhões de pessoas deslocadas, incluindo 3 milhões de refugiados nos países vizinhos, continuou António Guterres.

“O Sudão, mais uma vez, está a tornar-se rapidamente num pesadelo de violência étnica maciça, particularmente com a dramática escalada dos combates em El-Fasher", no Darfur, insistiu o secretário-geral da ONU.

Nesta região fronteiriça com o Chade, os Janjaweed, antecessores das RSF, foram acusados de "genocídio", no início dos anos 2000, em nome do então ditador Omar al-Bashir, que governou o Sudão.

António Guterres lembrou que os sudaneses e as ONG apelaram ao envio de uma força "imparcial" para proteger os civis, mas, salientou, "nesta fase, não existem condições para o envio bem-sucedido de uma força das Nações Unidas para proteger os civis no Sudão".

Contudo, admitiu "novas abordagens" que seriam adaptadas às circunstâncias.

A Semana com Lusa