Quando apresentou as diretrizes para o Orçamento de Estado para o próximo ano, o governo cabo-verdiano estimou um crescimento económico entre os 4,8% e os 5,3%, o Outlook do FMI, publicado esta terça, aponta para os 4,7%. Mesmo assim, esta percentagem é superior à esperada para a África subsaariana (4,2%), está acima da prevista para os países africanos de rendimento médio (3,9%) – grupo de que Cabo Verde faz parte – e faz do arquipélago um dos países dos PALOP com melhores números: Guiné-Bissau lidera com 5,0%, mas depois de Cabo Verde aparecem Moçambique (4,3%), São Tomé e Príncipe (3,3%), Angola (2,8%) e a Guiné Equatorial (-4,8%).

Este Outlook, publicado nesta altura para encaixar com as Reuniões Anuais organizadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em conjunto com o Grupo do Banco Mundial (BM), que decorrem em Washington, até ao próximo dia 26, não é o mais optimista. Espera-se que o crescimento global se mantenha estável, embora desanimador. Com 3,2% em 2024 e 2025, a projecção de crescimento mantém-se praticamente inalterada face à actualização das Perspectivas Económicas Mundiais de Julho de 2024 e às Perspectivas Económicas Mundiais de Abril de 2024.

Nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento, as perturbações na produção e no transporte de mercadorias – especialmente o petróleo –, os conflitos, a agitação civil e os fenómenos climáticos extremos levaram a revisões em baixa das perspectivas para o Médio Oriente e a Ásia Central e para a região Subsariana. Estas foram compensadas por melhorias nas previsões para a Ásia emergente, onde a crescente procura de semicondutores e electrónica, impulsionada por investimentos significativos em inteligência artificial, impulsionou o crescimento, uma tendência apoiada por investimentos públicos substanciais na China e na Índia. Daqui a cinco anos, prevê-se que o crescimento global atinja os 3,1% – mesmo assim, um desempenho medíocre face à média pré-pandemia.

Inflação e riscos

A inflação global deverá descer de uma média anual de 6,7% em 2023 para 5,8% em 2024 e 4,3% em 2025, com as economias avançadas a regressarem às suas metas de inflação mais cedo do que as economias dos mercados emergentes e em desenvolvimento. À medida que a desinflação global continua a progredir, ainda são possíveis obstáculos no caminho para a estabilidade de preços. Os preços dos bens estabilizaram, mas a inflação dos preços dos serviços continua elevada em muitas regiões, apontando para a importância de compreender a dinâmica sectorial e de calibrar a política monetária em conformidade.

Os riscos para as perspetivas mundiais estão inclinados para o lado negativo num contexto de elevada incerteza política. As súbitas erupções na volatilidade dos mercados financeiros – como as registadas no início de Agosto – poderão tornar as condições financeiras mais restritivas e pesar sobre o investimento e o crescimento, especialmente nas economias em desenvolvimento, onde grandes necessidades de financiamento externo a curto prazo podem desencadear saídas de capitais e sobreendividamento.

Outras perturbações no processo de desinflação, potencialmente desencadeadas por novos picos nos preços das matérias-primas num contexto de tensões geopolíticas persistentes, poderiam impedir os bancos centrais de aliviar a política monetária, o que colocaria desafios significativos à política orçamental e à estabilidade financeira.

Uma intensificação das políticas proteccionistas agravaria as tensões comerciais, reduziria a eficiência do mercado e perturbaria ainda mais as cadeias de abastecimento. O aumento das tensões sociais poderá provocar agitação social, prejudicando a confiança dos consumidores e dos investidores e atrasando potencialmente a aprovação e implementação das reformas estruturais necessárias.

À medida que os desequilíbrios cíclicos na economia global diminuem, as prioridades políticas a curto prazo devem ser cuidadosamente calibradas para garantir uma aterragem suave (soft landing). Em muitos países, é urgente uma mudança de rumo na política orçamental para garantir que a dívida pública se encontra numa trajectória sustentável e para reconstruir as reservas orçamentais; o ritmo do ajustamento deve ser adaptado às circunstâncias específicas de cada país. São necessárias reformas estruturais para melhorar as perspetivas de crescimento a médio prazo, mas o apoio aos mais vulneráveis deve ser mantido.

Como sublinha o relatório, a cooperação multilateral é mais necessária do que nunca para acelerar a transição verde e apoiar os esforços de reestruturação da dívida.

Cabo Verde em Washington

O Ministro das Finanças está nos Estados Unidos, a participar nas Reuniões Anuais organizadas pelo FMI e o Banco Mundial. Olavo Correia vai ser também empossado Presidente do Conselho de Governadores de ambas as instituições.

“Este encontro representa uma excelente oportunidade para o Governo continuar a reforçar os contactos bilaterais com os principais parceiros de desenvolvimento do país e estabelecer novas parcerias estratégicas, especialmente no actual contexto de enormes desafios”, escreveu o governante na sua página do Facebook.

Na agenda de discussão deste ano, destacam-se temáticas como a recuperação económica e o investimento climático, visando a integração de políticas de desenvolvimento que respondam às mudanças climáticas e promovam um futuro sustentável. As reuniões servirão também como um fórum para a apresentação de relatórios e análises sobre a situação económica global, além de facilitar a formulação de políticas que respondam às necessidades dos países em desenvolvimento.

“A minha agenda inclui encontros que visam reforçar a cooperação com parceiros de desenvolvimento de Cabo Verde (BM, FMI, BAD, BADEA, IFC, Fundo Kuwait, Fundo Saudita, Banco de Importação-Exportação da China, África50, AFC, entre outras entidades parceiras), além de estabelecer contactos com várias instituições financeiras e empresas, com o objectivo de apresentar as áreas prioritárias para investimentos no nosso Arquipélago, que constam do novo Plano Estratégico Nacional”, avançou o Ministro das Finanças. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1195 de 23 de Outubro de 2024.