Controlador de tráfego aéreo – os olhos atentos da aviação proibidos de cometer erros
SOURCE: [Inforpress]
*** Por Letícia Neves (Texto) e Sidneia Newton (Foto e Vídeo) da Agência Inforpress ***
Mindelo, 20 Out (Inforpress) – Leila Leite é controladora de tráfego aéreo no Aeroporto Internacional Cesária Évora, em São Vicente, e há 22 anos exerce a profissão sendo os “olhos atentos” da aviação civil, mas sem espaços para erros.
A inforpress foi ao encontro da controladora de tráfego aéreo no seu local de trabalho para uma entrevista a propósito do Dia Mundial do Controlador de Tráfego Aéreo, assinalado hoje.
A técnica, de 48 anos, tem como “escritório” a torre de controlo, que é um dos pontos mais altos do antigo aeroporto de São Pedro, que divide as dependências com o Comando da Guarda Costeira.
Local de vista privilegiada, mas com acesso restrito, onde, juntamente com mais cinco colegas, divide os turnos de serviço para reger as movimentações na pista, aterrisagens e decolagens, que, em São Vicente, nem são muitas e podem ser contadas diariamente pelos dedos das mãos.
Em contraponto, o peso da responsabilidade mostra ser “bem grande” uma vez que um pequeno erro ou descuido pode custar vidas humanas e várias perdas materiais.
“Costumo dizer que o ser humano erra, mas nós, infelizmente, não podemos errar, nosso erro é bem fatal”, descreve a controladora que, apesar de gostar da sua profissão, esta não foi a sua primeira escolha.
Antes de ser os “olhos atentos” da aviação civil pretendia ser técnica de Higiene e Segurança no Trabalho e Ambiente, profissão em que se formou mas que nunca conseguiu exercer por não ter encontrado um emprego na área.
Daí, decidiu arriscar-se quando viu nos jornais um anúncio da empresa pública Aeroportos e Segurança Aérea (ASA) para recrutamento de controladores de tráfego aéreo.
Passou por alguns testes e uma formação inicial, na ilha do Sal, e terminou por ser uma dos 20 escolhidos a se formar na Academia ATNS Aviation Training, na África do Sul, em 2002.
Desde então assume “de corpo e alma”, as responsabilidades de ser controladora áerea, um trabalho “muito exigente” e no qual diariamente, como descreveu, andam com “a faca acima da cabeça”, para tomar medidas instantâneas, ainda mais em casos de imprevistos, que pode lhes custar multas e até detenção.
Igualmente na “corda bamba” estão até quando o assunto é saúde, por causa dos rigorosos exames médicos a que são submetidos anualmente.
“Quantos mais idade tivermos, mais o controlo médico se torna mais frequente e se, por azar, algum órgão não estiver a funcionar como deveria, automaticamente somos afastados, ou até que as coisas se revertem, ou então se for definitivo, deixamos de ser controladores de tráfego áereo”, explicou.
Além das exigências físicas e psicológicas, o domínio do inglês – a língua oficial da aviação internacional – e o conhecimento actualizado sobre tecnologias em constante evolução também são fundamentais.
Por isso, sem pretensão de basófia, acredita que ela, assim como os seus colegas, “não são profissionais facilmente substituíveis,”, porque, até mesmo para trabalhar numa torre como a de São Vicente, com as suas próprias especificidades, têm de passar por uma período de experiência
“Primeiro temos que fazer o que chamamos de `on job training´ de mais ou menos três meses, trabalhamos acompanhado de um instrutor, que avalia se estamos aptos e familiarizados com a estrutura, com as cartas da região e outros pormenores”, esclareceu.
Apesar de tantas tensões e estresse deste trabalho, os controladores da torre de São Pedro ainda carecem de um acompanhamento psicológico permanente.
Algo que Leila Leite considera ser uma necessidade para ajudar a ultrapassar situações traumáticas, que, por sorte, ainda não teve de enfrentar, mas que aconteceram com colegas que testemunharam incidentes entre aviões.
“O acompanhamento psicológico é algo que faz falta, porque é uma situação sensível, anormal, e não são todas as profissões que funcionam nestes modos”, justificou, referindo ser ainda um direito que associação da classe, criada há cerca de 30 anos, está na luta para conseguir.
Entretanto, nem tudo são espinhas, e Leila Leite congratula-se com o novo sistema de navegação, implementado em Junho do ano passado, que tem permitido facilitar o trabalho e dotar as decisões de mais credibilidade, com a digitalização de todas as informações.
Um “assessor” que contribuiu para diluir as pressões do dia-a-dia e permitir trabalhar com confiança para separar e fazer fluir o trânsito aéreo de “forma rápida, fácil e segura”.
O dia 20 de outubro foi instituído como o Dia Internacional do Controlador de Tráfego Aéreo, data que remete à realização do primeiro encontro mundial de profissionais da categoria, no ano de 1960.
Promovido na Grécia, o evento também assinalou a criação da Federação Internacional de Controladores do Tráfego Aéreo (IFATCA - International Federation of Air Traffic Controllers Associations).
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Inforpress/Fim