O meu irmão Frederico Hopffer Almada/Nhonhô Hopffer (II parte)
SOURCE: [Santiago Magazine]
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O meu irmão Frederico Hopffer Almada/Nhonhô Hopffer (II parte)
*Nota do autor: o presente texto foi escrito a pedido do primo Doutor Mário Lima, também um Furtado, e serviu de base para a elaboração de um belo e muito pertinente Resumo Executivo pelo neto da tia Candinha (de seu nome próprio Paula Tavares Furtado), nosso primo e muito amigo do nosso saudoso irmão Nhonhô, o Doutor Engenheiro Inácio Pereira, que o leu como conferência de evocação e de exaltação biográficas de Frederico Hopffer Cordeiro Almada/Nhonhô Hopffer por ocasião da homenagem que lhe foi prestada no Encontro da Família Furtado, realizado no passado dia 6 de Abril na cidade de São Domingos. Agradeço aos primos Mário Lima e Inácio Pereira a oportunidade que me foi concedida de estar presente nesse Encontro da Família Furtado e na homenagem então feita ao meu irmão Nhonhô através da oportuna intervenção e da sentida colaboração de ambos.*Tuna Furtado Lopes é o pseudónimo literário de José Luis Hopffer C. Almada para a escrita de artigos e de ensaios. O fito do seu uso é consabida e propositadamente resgatar o nominho da minha avó materrna Tuna (Inês Tavares Furtado Lopes), sendo ela a única avó que conheci e com quem convivi pessoalmente na sua casa e nas suas propriedades de Fonteana e na nossa casa do Cutelo, na Vila da Assomada, sendo ademais neutro o nominho Tuna nos seus usos no masculino e no feminino), bem como recuperar para a escrita da minha pseudonímia os perdidos apelidos Furtado Lopes da minha ascendência por via materna
II PARTE
TEMPOS QUASE PÓS-COLONIAIS E TEMPOS PÓS-COLONIAIS
A MORTE DO NOSSO PAI, A NOSSA ESTADIA NA CIDADE DA PRAIA
E A NOSSA IDA PARA ESTUDOS UNIVERSITÁRIOS NO ESTRANGEIRO
8. A morte do nosso pai marcou-nos irremediavelmente e para todo o sempre. Por isso, no ano lectivo seguinte passámos os três irmãos mais novos a morar na casa da nossa irmã Mariazinha na rua dos Correios. Entretanto, o Nhonhô seguiria no ano lectivo de 1976 para a Roménia com uma bolsa de estudos que lhe permitiu concluir o ensino liceal na cidade de Timisoara, onde muito mais tarde viria a eclodir a primeira e decisiva revolta contra o regime dos Ceaucescu, e encetar o curso de Arquitectura na respectiva Faculdade da Universidade Ion Mincu, de Bucareste, curso esse que finalmente escolheu e a que pareceu sempre destinado desde a infância, depois de inicialmente ter optado no pedido de bolsa de estudos por Artes Plásticas.
Depois de alguns dissabores no Liceu, o Benny entraria para as FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo) e, depois de cumprido o serviço militar obrigatório, maioritariamente feito na ilha do Sal, empregar-se-ia como funcionário dos Registos e Notariado na ilha de São Vicente, onde conheceria a sua futura esposa Ivete e lhes nasceria a filha, Cathleen, seguindo todos, anos depois, para o Consulado de Cabo Verde em Roma, onde viria a nascer o filho Bennyzinho. Depois da sua transferência para Roma, o Benny era assiduamernte visitado pelo Nhonhô enquanto foi estudante universitário na Roménia.
Pelo meu lado, passei a morar na casa do meu irmão David, era ele ainda divorciado da sua primeira esposa Fátima Dupret e mãe dos seus dois primeiros filhos, Ana Cristina e Davidinho, antes de se casar com a sua segunda esposa Ana Maria Fonseca e, em 1977, lhes ter nascido a filha Janira e, já comigo estudante universitário no estrangeiro, a filha Romina. Nessa altura, desenvolvi intensa actividade política e cultural no âmbito da Secção Liceal Domingos Ramos da JAAC-CV (Juventude Africana Amílcar Cabral-Cabo Verde), bem como da Associação dos Estudantes do Liceu Domingos Ramos, depois intempestivamente extinta em 1979 na sequência da auto-demissão/da expulsão do ramo caboverdiano do PAIGC de alguns dirigentes e militantes conotados com a chamada fracção trotskista.
9.Concluido o Curso Complementar dos Liceus obtive uma bolsa de estudos para frequentar estudos de Direito na Alemanha de Leste, oficialmente conhecida por RDA/República Democrática Alemã (ou DDR/Deutsche Demokratische Republik, na sigla e na denominação alemãs), onde recebi uma visita do Nhonhô e da sua namorada sudanesa Nagwa, depois de o ter visto pela última vez em Agosto de 1981, em Lisboa, onde fomos sempre acompanhados pelo nosso irmão Orlando e morámos os três na casa do nosso irmão Rui, em Linda-a-Velha, para onde o nosso irmão tinha mudado, indo de Coimbra. Depois de uma longa viagem de comboio começada na célebre Estação Central de Leipzig e que me fez atravessar parte da Alemanha de Leste, a Alemanha Ocidental, a França e a Espanha, entrei em Portugal pela localidade fronteiriça de Vilar Formoso a caminho de Coimbra, onde esperava encontrar o meu irmão Orlando, desde há muitos anos radicado nesssa cidade e morador da república estudantil dos mil y onários.
Chegado a essa mítica e auto-gerida residência estudantil qual não foi a minha surpresa quando o único morador aí presente nessa altura de férias de verão, o Manuel Onofre, que depois viria a ser juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça de Cabo Verde, me informou com alguma consternação que o Orlando se tinha mudado para Lisboa, desconhecendo ele a sua actual morada na capital portuguesa. De todo o modo, e de forma simpática, pôs as instalações dos mil y onários à minha disposição e indicou-me o nome do estudante de Direito Ilídio Cruz para me acompanhar e orientar durante a minha estadia nas minhas deambulações e nos meus contactos para um melhor conhecimento da cidade universitária tão conhecida e, até marcante, da nossa família. Permaneci em Coimbra por dois dias, um inteiro fim de semana se não me engano, e desconhecendo o endereço do meu irmão Orlando em Lisboa, mas tendo comigo o endereço do meu irmão Rui, de há muito radicado com a família na mesma cidade, por precaução e para evitar surpresas idênticas às vividas em Coimbra dirigi-me para a casa da família do nosso colega Tónio, também estudante na RDA, na cidade de Weimar, e uma pessoa muito amável, fiável e confiável, cujo endereço da família em Lisboa, na Praça de Espanha, eu trazia felizmente comigo. Chegado a Lisboa, o Tónio levou-me de táxi à casa do meu irmão Rui, localizado no bairro de Algés.
Cansado, fui muito bem recebido não só pelo meu irmão Rui, pela sua esposa Milú (Lurdes Spencer) e pelos seus dois filhos e meus sobrinhos, um do sexo feminino e mais velha e o outro do sexo masculino e mais novo, mas também pela minha irmã Tuginha que, vindo de Bissau com uma bolsa médica, estava em busca de consulta e tratamento para um problema de olhos do seu filho mais novo Sedicoy. Foi deveras agradável esse meu reencontro com a Tuginha e o filho pequeno dela, depois de os ter visto pela última vez em Setembro de 1979, em Bissau, quando, juntamente com o Rui Évora e o Afonso Semedo, passei em trânsito por essa cidade, na altura mergulhada numa grande penúria de bens alimentares de primeira necessidade e visivelmente na expectativa de algo que iria brevemente explodir, para obter o visto na Embaixada da RDA na Guiné-Bissau, também com jurisdição sobre o território de Cabo Verde, para poder seguir viagem e iniciar os meus estudos propedêuticos da língua alemã e os estudos universitários de Direito na cidade de Leipzig. Nesse mesmo dia, fui acordado a altas horas da noite por alguém e qual não foi a minha surpresa (mais uma!) quando me deparei não com um irmão, o esperado Orlando, mas com dois irmãos, o esperado Orlando e o absolutamente inesperado Nhonhô!
Foi deveras comovente o nosso reencontro de irmãos e fizemos por passar juntos por excelentes e prazerosos momentos em companhia cada qual da sua miúda de circunstância, no meu caso e no caso do Nhonhô, originárias da Guiné-Bissau, mesmo se vivendo ainda o rescaldo do golpe de Estado, dito reajustador, de Nino Vieira contra Luís Cabral, ocorrido a 14 de Novembro de 1990, pondo fim ao princípio cabraliano e paigcista da unidade Guiné-Cabo Verde e ao titubeante e cada vez mais desacreditado processo de união orgânica entre as duas repúblicas irmãs independentes e soberanas. No caso do Orlando, a namorada alemã-ocidental estava ausente no país natal, a Alemanha Federal. Eu estava de passagem por Lisboa, tendo sido obrigado em razão do imprevisto encontro em Lisboa com os meus irmãos Nhonhô e Orlando a passar parte das férias de Verão do ano de 1981 na grande, luminosa e bela cidade da beira-Tejo, até então desconhecida para mim, antes de seguir viagem para completar as mesmas férias de verão em Cabo Verde, onde ansiava por encontrar o meu filho primogénito Z’hay (Frederico José Correia Hopffer Cordeiro Almada, de seu nome completo), nascido a 30 de Abril de 1980 durante a minha ausência na Alemanha, a sua mãe e minha mãe-de-filho Venulda, a minha adorada mãe Júlia, os meus amados irmãos David e Benny, as minhas amadas irmãs Mariazinha e Lurdes, a minha querida prima-irmã Edna, a minha respeitada irmã de criação Veninha, os meus estimados sobrinhos e sobrinhas (filhos e filhas do David, da Mariazinha, da Lurdes e do Rui) e os meus demais parentes bem como os saudosos amigos que ficaram na terra-mãe.
Encontrei a cidade da Praia e uma orgulhosa ilha de Santiago em plena euforia musical pela vibrante febre do funaná, cujas poderosas sonoridades propiciadas pelo génio musical de Catchás/Katxás (Carlos Alberto Martins) e pela mestria vocal e instrumental do conjunto Bulimundo já conhecia muito bem, em virtude de o nosso irmão David, um dos mais importantes promotores da Festa do V Aniversário da Independência Nacional de Cabo Verde e da correlativa ascensão ao estrelato musical do conjunto Bulimundo, ter-nos enviado, ao Nhonhô e a mim, a gravação do seu célebre espectáculo no Cineteatro Municipal da cidade da Praia e que a partir daí era ouvida em todas as festas promovidas pelos estudantes caboverdianos residentes nsa RDA (e suponho que também na Roménia) e tinha suscitado um geral entusiasmo nos estudantes caboverdianos e africanos nossos colegas e mesmo em outros estudantes estrangeiros em geral. Nessa ocasião, o Benny veio expresssamente da cidade do Mindelo para passar a férias comigo.
De volta de Cabo Verde, passei de novo por Lisboa para encetar a minha longa viagem de comboio de regresso a Leipzig. Nessa altura, e com o Nhonhô já regressado à Roménia, encontrei o Orlando acompanhado da sua namorada alemã ocidental e doeu-me muito deixá-los para trás, sobretudo ao Orlando que tanto teria a fazer em Cabo Verde, se se abalançasse a regressar a Cabo Verde para finalmente ajudar a nossa mãe e tomar conta das nosas propriedades do Pombal e não só, ou, até, para conseguir uma bolsa de estudos para continuar os estudos interrompidos ou encetar novos estudos superiores.
DE NOVO NA CIDADE DA PRAIA DEPOIS DO NOSSO REGRESSO DOS ESTUDOS UNIVERSITÁRIOS COM A ABERTURA POLÍTICA E A MUDANÇA DEMOCRÁTICA DO REGIME POLÍTICO MONOPARTIDÁRIO NO HORIZONTE
10. Somente voltaria a ver o Nhonhô depois do meu regresso dos estudos universitários. Nessa altura passei a morar no T1 que lhe foi atribuído na chamada zona do Prédio do bairro da Achada de Santo António, até me ter sido atribuído um T1 no Lar da Terra Branca onde se instalaram vários jovens quadros regressados dos estudos no estrangeiro, muitos deles actualmente colocados em altos cargos do Estado ou em empresas privadas. De entre eles, recordo-me muito bem do Mário Camões, do bissau-guineense Alfredo Monteiro, então casado com a minha amiga da adolescência e da juventude praianas Arminda Barros, que conheceu eram ambos estudantes na União Soviética, do Benfeito Mosso Ramos, do Joaquim (Djack) Furtado, das FARP, do actual Ministro Alexandre Monteiro...
Nessa altura, era o Gabinete do Primeiro-Ministro que, por solicitação dos respectivos ministérios, atribuia as casas do Estado aos funcionários públicos e havia uma grande competição por esses autênticos bens raros, termo que, depois, durante as discussões públicas da Tese Geral do Congresso do PAICV de 1988, se tornaria muito popular e entraria no jargão político corrente. Quem conseguisse um apartamento do Estado, mesmo que fosse um T0, poderia considerar-se um privilegiado, pois que as rendas das casas privadas eram consideradas exorbitantes e simplesmnte incomportáveis ou dificilmente comportáveis para os baixos vencimentos auferidos na função pública, mesmo sendo-se técnico superior, como era o nosso caso, de mim e do Nhonhô. Havia por isso igualmente uma grande competição para a nomeação para cargos dirigentes na Administração Pública e no sector empresarial do Estado, pois que essas nomeações implicavam quase automaticamente a atribuição de algumas regalias, como sejam casa e viatura do Estado devidamnte fornecida de combustível, além dos vencimentos e subsídios devidos pelo exercício de cargos dirigentes, designadamente como director de serviços, director-geral, presidente de instituto público, gestor de empresa pública e equiparados. Muito apetecíveis eram também as viagens ao estrangeiro integrados em delegações oficiais em razão das cobiçadas e ajudas de custo que nessas ocasiões eram atribuidas.
Pouco tempo depois da minha nomeação como técnico superior da secretaria-geral do Governo fui nomeado como adjunto dos mesmos serviços e, depois, como director dos seus serviços jurídicos e de legislação. Foi nessa condição e com a vinda eminente da minha companheira de muitos anos na Alemanha de Leste, a malgache Isabelle Clémence Andriamaheninarivo, que me foi atribuído o T1 no Lar da Terra-Branca. A Isabelle ainda foi recebida por mim no T1 do Nhonhô, mas nos dias seguintes à sua chegada à cidade da Praia, via ilha Sal, onde funcionava o único aeroporto internacional do país, mudámos para o T1 do Lar da Terra Branca que me fora atribuido. Alguns anos depois, o nascimento eminente, em 11 de Maio de 1989, do meu segundo filho Sven (Sven António Hery Andriamaheninarivo Hopffer Cordeiro Almada, de seu nome completo) ocorreu já no T3 que me foi atribuido no mesmo bairro da Terra Branca para, por assim dizer, suceder como inquilino do senhorio Estado, na altura representado pelo IFH (Instituto de Fomento da Habitação), ao meu amigo e colega de trabalho na Chefia do Governo de Cabo Verde, Manuel Delgado, entretanto emigrado para Portugal com a mulher Clara Seabra, minha antiga professora liceal de português, e os seus dois filhos menores.
Esses tempos, os celebrados anos oitenta do século XX, foram tempos de muitas festas e de febril actividade cultural. Essa mesma actividade cultural resultaria na fundação do Núcleo Pró-Cultura pelo Kaká Barbosa, pelo Nhelas Spencer, pela Fátima Monteiro (depois expatriada para os Estados Unidos da América) e por mim próprio. O mesmo grupo, cujo nome foi uma criação minha e do Nhelas Spencer, foi depois alargado a outros criadores nos domínios da literatura, das artes plásticas, da música e da cinefilia num total de quase uma trintena de pessoas, assim culminando na criacão do Movimento Pró-Cultura, de cuja vertente literária eu aparentava ser o líder e cuja vertente musical, dirigida pelo Kaká Barboza, o Nhonhô também integrava. Da criação do Movimento Pró-Cultura resultaria, por sua vez e subsquentemente, o surgimento de uma nova geração literária e plástica caboverdiana, revelada primeiramente no suplemento cultural Voz di Letra (dez números) do jornal Voz di Povo, coordenado por Oswaldo Osório e Ondina Ferreira e dinamizado pelo Movimento Pró-Cultura, e, depois, consolidada na revista dissidente Sopinha de Alfabeto (dois números) e na revista Fragmentos (quinze números, incluindo números duplos), do mesmo Movimento Pró-Cultura, a par da iniciaçao e da consolidação nas nossas respectivas actividades profissionais.
O país vivia um clima de grande distensão e expectativa políticas, ao mesmo tempo que pululavam as bocas e os panfletos nocturnos pondo em causa o regime de partido único socializante então vigente em Cabo Verde, mas fadado a desaparecer mais cedo ou mais tarde, conforme diziam os nítidos sinais emitidos do Leste do Mundo, em especial da União Soviética pós-Brejnev e pós-Chernenco e dos antigos países onde fizemos os nossos estudos universitários, designadamente a Roménia e a RDA.
Para além dos seus antigos amigos das tocatinas e serenatas na cidade da Praia e na vila da Assomada, como o Manel Barrusco (Emanuel Galina Monteiro), entretanto regressado com o irmão Liche dos estudos universitários na Bulgária, o Nhonhô continuou muito ligado aos seus antigos colegas da Roménia, com os quais tinha desenvolvido intensa actividade cultural, tendo na altura criado na cidade da Praia um grupo musical que, além do Nhelas Spencer, do Elísio Faria (Body), do Braz Andrade e de outros caboverdianos originários de várias ilhas, integrava também a Elisabeth, uma cooperante canadiana, de origem jugoslava, mais precisamente sérvia, se não me engano, e notória e qualificada amante da música caboverdiana que interpretava com muita competência e beleza.
Segundo me foi dado ver e assistir, o julgamento e o fuzilamento do casal Nicolae e Elena Ceaucescu no natal de 1989, apesar de notoriamente expeditivo e contra todas as regras de um Estado mínima e verdadeiramente de Direito, foram tidos pelos antigos estudantes caboverdianos na Roménia como justos e oportunos a eles que viveram a penúria extrema e as luxuriosas e megalómanas manigâncias do mesmo casal que engendrou um Estado totalitário dito socialista com o povo romeno despojado de todos os direitos cívicos e de todas as liberdades fundamentais e sobrevivendo na quotidiana precariedade cívica e na maior escassez dos bens de consumo essenciais, a pretexto do pagamento rigoroso e pontual pelo regime no poder da dívida externa romena.
Foi esse estado de coisas no país dos Cárpatos que devem ter levado o Nhonhô e a sua namorada Nagwa a extasiar-se com a RDA e, até, a considerar que, em comparação com a Roménia da altura, nós, estudantes caboverdianos na RDA, vivíamos num autêntico paraíso. Anote-se que essas palavras foram proferidas por quem tinha o hábito de visitar regularmente a Alemanha Federal e vários outros países ocidentais, com destaque para a Itália e Portugal, durante as férias dos estudos na Roménia em razão de anteriormente ter tido uma namorada alemã-ocidental e de ter feito assíduas visitas aos nossos irmãos, designadamente o Benny, o Orlando e o Rui, nesses dois países da Europa do Sul. Tivêssemos podido atravessar o Muro na altura e visitar Berlim Ocidental e a sua exuberância de bens de consumo de alta qualidade talvez tivessem sido mais comedidas em entusiasmo as palavras do Nhonhô relativas à RDA e à sua profusão de bens de consumo de qualidade, patentes sobretudo nas famosas lojas Exquisit, mas também no Konsument de Leipzig e em lojas similares de geral e comum acesso público em Berlim Oriental. É óbvio que na altura nada sabíamos das arbitrariedades da STASI leste-alemã, todavia certamente mais sofisticada, mais comedida e mais civilizada que a SECURITATE romena no controlo total que exercia sobre a sociedade e os cidadãos leste-alemães.
8. O certo é que a Queda do Muro de Berlim nos entusiasmou a todos, antigos estudantes da RDA e da Roménia, então definitivamente regressados ao país, uns porque queriam ver emergir uma sociedade socialista verdadeiramente democrática e de rosto autenticamente humano, outros porque queriam ver definitivamente varrida da História o que consideravam ser um sistema social de escassez e/ou de penúria absoluta para o povo e de inconcebíveis luxos para a classe dirigente acoplado a um regime político nitidamente totalitário ou, pelo menos, excessivamente autoritário, depois das trágicas vivências dos tempos de Estaline e das suas contemporâneas autocracias de esquerda emergentes em consequência da derrota nazi-fascista na Segunda Guerra Mundial.
Depois de algum compasso de espera, a mudança política chegou também a Cabo Verde. Seguimos ambos, o Nhonhô e eu, com muita atenção os trabalhos preparatóroios do Congresso de 1988 do PAICV. Sentimo-nos defraudados por não se ter aproveitado essa oportunidade soberana e histórica e se ter declarado a abertura do sistema político caboverdiano à democracia pluripartidária, tanto mais que proliferavam os debates, incluindo nos meios públicos de comunicação social, em que se invectivava abertamente o regime de partido único e se pugnava por um sistema político plenamente democrático, isto é, com consagração constitucional do direito de criação de associações e partidos políticos e do direito de oposição política. Por isso, saudámos efusivamente o anúncio da Abertura Política de 19 de Fevereiro de 1990, tendo ambos assistido à conferência de imprensa dada nessa ocasião por Pedro Pires, o Secretário-Geral Adjunto do PAICV e homem forte do regime de democracia nacional revolucionária, isto é, do regime de partido único socializante implantado por quinze anos em Cabo Verde, no Salão de Banquetes do Palácio da Assembleia Nacional Popular. Não me esquecerei nunca do que nos disse a ambos, ao Nhonhô e a mim, o José Manuel Pinto Monteiro nessa altura, depois da acima referida conferência de imprensa de Pedro Pires: “Agora vão ver!”.
Nessa circunstância, a nossa postura foi de grande expectativa, na medida em que nem eu nem o Nhonhô éramos militantes do PAICV, nem sequer pretendíamos encetar uma qualquer militância política seja em que partido fosse, confesse-se que, em certa medida, porque considerávamos ambos que, tendo sido inquestionavelmente uma ditadura o regime instituído pelo PAIGC/PAICV, em razão primacialmente do monopólio do poder político detido por esse partido/movimento de libertação nacional durante quinze anos, todavia pouco tinha a ver esse mesmo regime mitigado de partido único socializante com os regimes totalitários e em acelerado desmoronamento no Leste da Europa, como queria fazer crer a oposicão emergente. Entretanto, ausentei-me durante um ano em Portugal para frequentar o CEJ (Centro de Estudos Judiciários). Foi pois a partir de Lisboa que passei a seguir os acontecimentos no mundo, no Leste da Europa, em África e em Cabo Verde. Foi a partir de Lisboa que segui pela televisão à festa da esmagadora vitória do MpD e do seu candidato presidencial António Mascarenhas Monteiro nas eleições legislativas de 13 de Janeiro de 1991 e nas eleições presidenciais de 17 de Fevereiro de 1991. Foi a partir de Lisboa que assisti à invasão do Koweit pelo Iraque e pela sua libertação pelos Estados Unidos da América e o pelos seus aliados ocidentais e médio-orientais perante a passividade de uma União Soviética atolada na perestroika e na glasnost iniciadas por Mikhail Gorbatchov e em plena mudança caótica e com fortes indícios de desagregação.
De todo o modo, o Nhonhô foi candidato municipal no seu concelho natal de Santa Catarina nas eleições autárquicas de Dezembro de 1991, depois e apesar da estrondosa derrota do PAICV nas eleições legislativas de 13 de Janeiro de 1991 e da ainda mais estrondosa derrota do seu candidato presidencial Aristides Pereira nas eleições presidenciais de 17 de Fevereiro de 1991, tendo sido ele um dos dois eleitos municipais nas listas do PAICV numa Assembleia Municipal ocupada em mais de 4/5 por eleitos municipais do MpD, situação que somente viria a ser revertida com a vitória por maioria qualificada de José Maria Pereira Neves e do PAICV nas eleições autárquicas de 1999 em Santa Catarina, a que se seguiria a segunda alternância política democrática com a vitória com maioria absoluta do PAICV liderado por José Maria Neves nas eleições legislativas de 14 de Dezembro de 2001 e de Pedro Pires nas eleições presidenciais subsequentes, ainda que muito à tangente, por escassos doze controversos votos.
Nessa altura, todos nós, o Nhonhô em Cabo Verde, o Benny na Itália e eu em Portugal, nos engajámos no indefectível apoio à candidatura presidencial do nosso irmão David, que todavia ficou pela primeira volta dessas eleições presidenciais de 2001, tal como a candidatura presidencial de Jorge Carlos Fonseca. Embora o David não tenha declarado apoio expresso a nenhuma das candidaturas presidenciais passadas para a segunda volta, designadamente de Pedro Pires e de Carlos Veiga, alegadamente por a sua candidatura ter sido independente e ele David não ser dono dos votos dos seus apoiantes, eu e os meus irmãos Nhonhô, Benny e Orlando, as minhas irmãs Mariazinha, Tuginha e Lurdes, os meus sobrinhos e sobrinhas e, até, a mãe Júlia, bem como grande parte dos apoiantes da candidatura presidencial do David, mormente os oriundos do PAICV e do PRD, declararam ou apoiaram factualmente a candidatura presidencial de Pedro Pires, depois vencedora por uma unha negra, contra a candidatura de Carlos Veiga, depois derrotada por escassos dozes votos.
O mesmo apoio nosso ao David, de todos os irmãos e quase todos os familiares Hopffer Almada, verificou-se novamente, nas eleições presidenciais de 2011, continuando eu ausente em Portugal, quando ele, juntamente com Aristides Lima e Manuel Inocêncio Sousa, dois altos dirigentes do PAICV e dos órgãos políticos de soberania da República de Cabo Verde, teve de se submeter previamente ao escrutínio do Conselho Nacional do PAICV para a escolha do candidato presidencial a apoiar por esse partido na altura no poder durante duas legislaturas e dois mandatos presidenciais. Eliminado Aristides Lima na primeira volta do escrutínio interno do Conselho Nacional do PAICV, o David foi por sua vez eliminado na segunda volta do mesmo escrutínio interno por Manuel Inocêncio Sousa, que, paradoxalmente, contou com o apoio quase unânime dos apoiantes de Aristides Lima. Quiçá e aparentemente apostando em Manuel Inocêncio Sousa, o candidato presidencial depois apoiado oficialmente pelo PAICV e considerado o mais fraco entre os três pré-candidatos presidenciais, tanto nas sondagens como no seu perfil para o exercício do cargo presidencial, os apoiantes de Aristides Lima lançaram o seu candidato derrotado no escrutínio interno acima referido como candidato presidencial alegadamente independente e da cidadania, mas que efectivamente se veio a comprovar como uma candidatura rebelde apoiada pela ala minoritária do PAICV, capitaneada por Felisberto Veira Alves, e pela UCID.
É essa mesma ala minoritária do PAICV que, presumivelmente, viria a optar pela candidatura apoiada pelo MpD e a final vencedora de Jorge Carlos Fonseca contra a candidatura de Manuel Inocêncio Sousa, oficialmente apoiada pelo PAICV, incluindo pela antiga ala apoiante de David Hopffer Almada. Se bem que convergentes no apoio final a Jorge Carlos Fonseca, o Nhonhô e eu divergimos temporariamente, pois que enquanto ele apostou imediatamente na candidatura de Jorge Carlos Fonseca depois da eliminação do nosso irmão David no escrutínio interno do Conselho Nacional do PAICV e da sua sequente e peremptória recusa em apresentar uma candidatura presidencial independente à revelia da candidatura de Manuel Inocêncio Sousa, oficialmente apoiada pelo PAICV, à semelhança do que fizera Aristides Lima, nas mesmas concretas circunstâncias eu apostei em Aristides Lima, por razões atinentes sobretudo ao seu perfiil presidencial e à nossa comum jornada na antiga RDA como estudantes de Direito, só depois da eliminação de Aristides Lima na primeira volta das eleições presidenciais apostando em Jorge Carlos Fonseca contra Manuel Inocêncio Sousa, por considerar que no sistema constitucional caboverdiano este último tinha mais o perfil, aliás, para mim excelente em face da obra feita como Ministro dos Transportes e das Obras Públicas, de Primeiro-Ministro e estava por isso mais talhado para ser Chefe do Executivo do que para ser Presidente da República e Chefe de Estado com o necessário perfil de árbitro e moderador do sistema político.
Como é sabido, o Nhonhô posicionou-se frontalmente em petição pública contra a mudança dos símbolos nacionais, em especial da bandeira nacional, por, entre outras razões relevantes, essa mesma mudança não ter sido sujeita a referendo popular. A aludida mudança dos símbolos nacionais, mesmo se envolta em muitas controvérsias, viria a ser consumada com a adopção da nova Constituição da República Caboverdiana de Setembro de 1992.
Entretanto, o Nhonhô foi sucessivamente eleito nas listas do PAICV como deputado municipal no seu concelho natal de Santa Catarina de Santiago, até ser escolhido por duas vezes para integrar o Conselho da República por opção do Presidente da República em exercício de entre personalidades representativas das várias sensibilidades políticas presentes na Assembleia Nacional, tendo a escolha recaído em Frederico Hopffer Cordeiro Almada em razão de, apesar de ter sido um convicto apoiante da eleição de Jorge Carlos Fonseca para Presidente da República, primeiramente contra as candidaturas presidenciais de Manuel Inocêncio Sousa, apoiado pelo PAICV, e de Aristides Lima, apoiado pela ala minoritária do PAICV capitaneada por Felisberto Vieira Alves e pela UCID, depois, na segunda volta, contra a candidatura presidencial de Manuel Inocêncio Sousa, o Nhonhô ter sido sempre politicamente conotado com o PAICV e considerado ademais um activo adversário das políticas implementadas pelo MpD, situando-se assim na trincheira política oposta à da sua esposa Maísa Salazar Antunes, uma indefectível apoiante do MpD e do seu líder histórico Carlos Veiga e, depois, das suas candidaturas presidenciais e das candidaturas presidenciais de Jorge Carlos Fonseca.
A MINHA PROLONGADA ESTADIA EM PORTUGAL E AS VISITAS DOS MEUS IRMÃOS NHONHÔ E BENNY
9. Ao falar da nossa infância na Assomada e da nossa adolescência e juventude na cidade da Praia, dissemos que o Benny era um magricelas a quem todos chamavam Merinha. Pois bem, depois da sua ida para a Itália a mudança física do Benny foi estrondosa. Doravante detentor de um físico robusto, ademais muito elegante nos seus fatos impecáveis, ncomo pude constatar com grande estupefacção no seu prmeiro regresso a Cabo Verde ainda eu morava no Lar da Terra Branca, o Benny tornou-se num indíviduo corpulento de baixa estatura, nisto se diferenciando do Nhonhô que, aumentando nitidamente de peso após umsa primeira estadia de férias nos Estados Unidos dsa América era ainda mais alto que o nosso irmão Orlando e tão alto como o nosso irmão David, tendo os três herdado a alta estatura do nosso pai António. A contrário, parece que os nossos irmãos Benny e Rui herdaram a baixa estatura da nossa mãe Júlia, situtuando-me eu, pelo meu lado, numa posição mediana com os meus 1, 75 cm. Ademais e referindo-me à nossa infância, adolescência e juventude na Vila da Assomada e na cidade da Praia, desabafara que desde muito cedo que o Benny carregou consigo a fama de traquinas, gozão e com falta de juízo.
O interessante nisso tudo é que, depois de muitas vicissitudes e de muito penalizado pelas suas traquinices e pela sua alegada falta de juízo, depois de muitos coices da vida, o Benny transformou-se no homem mais sério da família, ademais absolutamente avesso ao álcool e ao tabaco, de que parece ter-se libertado definitivamente. Apesar das vicissitudes da vida, acima referidas, e de que tomei conhecimento pormenorizado quando o visitei em Roma nas férias de verão de 1991, e mais ainda por ter sabido ultrapassar essas mesmas vicissitudes, o Benny era muito querido e amado pela sua esposa e pelos seus filhos e motivo de orgulho e exemplo de auto-superação para toda a nossa família restrita e alargada.
Licenciado em Direito pela Universidade Sapienza de Roma e com uma larga e aprofundada experiência dos Registos e do Notariado, o Benny era Conservador dos Registos e do Notariado na cidade da Praia, onde passou a residir com a mulher Ivete, depois de ganhar o respectivo concurso de nomeação, tendo construído nessa cidade e sob a supervisão do irmão arquitecto o edifício que agora funciona como sede da Fundação Pedro Pires para a Liderança. Quando tudo parecia correr-lhe totalmente de feição, a morte sobreveio através de um ataque cardíaco fulminante quando ele fazia o seu habitual jogging/footing matinal. Soube da súbita e inesperada morte do Benny através de um telefonema do David, que começou por me dizer qure tinha uma má notícia familiar para me comunicar. Pensei logo que fosse a nossa mãe, já com 98 anos de idade, o alvo da má notícia, mas nunca por nunca o Benny. Por isso, entrei imediatamente em estado de profundo choque.
Foi de tal forma repentina e absolutamente inesperada a morte do Benny que logo depois morreu a nossa mãe, já quase centenária mas nunca preparada, como, aliás, todas as mães, para a morte dos filhos, mormente os muito queridos. Pouco tempo depois morria o Orlando, levado por uma pancreatite, pelo que se diz sempre fatal e mortífera. Se a essas mortes de familiares próximos somarmos alguns factos políticos, designadamente as estrondosas derrotas do PAICV liderado pela nossa sobrinha Janira e dos seus colegas e camaradas de partido nas eleições legislativas e autárquicas, poderíamos concluir que 2016 foi o ano mais horribilis até agora ocorrido com a família Hopffer Almada.
A morte dos nossos dois irmãos e da nossa mãe abalaram particularmente o Nhonhô que se tornara inseparável do Benny após o regresso deste da Itália e era outrossim muito ligado à nossa mãe, depois de se ter tornado o principal gestor dos seus bens, designadamente do prédio Pombal da cidade da Praia e de cuja edificação ele fora o responsável directo. Ademais, o Nhonhô valera-se da sua qualidade de arquitecto para remodelar a nossa casa da Assomada com o fito de proporcionar maior conforto e maiores comodidades à nossa mãe, já muito idosa, tendo feito o mesmo com o nosso sobrado do Pombal, pensando certamente nas suas mais-valias e valências enquanto polo de turismo rural nas ribeiras de Sedeguma e dos Engenhos. Amiúde o Nhonhô expressava as suas sentidas e genuínass saudades do Benny e se queixava da imensa falta que ele lhe fazia. Quanto ao Orlando, o Nhonhô era-lhe também muito ligado desde os tempos em que ia passar férias com ele em Coimbra e, depois, em Lisboa, e se divertiam em tocatinas e serenatas, já que o Nhonhô gostava de cantar e o Orlando de tocar violão.
Depois do primeiro regresso prolongado do Orlando a Cabo Verde e da sua estadia na cidade da Praia, onde passou a trabalhar no Instituto Cabo-Verdiano do Cinema (ICC) e a morar no Lar da Terra Branca, o Nhonhô era certamente o irmão com quem melhor se entendia. Foi com o apoio do ICC que o Orlando consegui uma bolsa de estudos para fazer uma formação no muito prestigiado Instituto Internacional de Cinema de Havana patrocinado pelo célebre escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez, Prémio Nobel da Literatura, e ao qual infelizmente e em razão de vicissitudes várias não pôde regressar depois de umas férias escolares em Cabo Verde. Depois de regressar de Havana em princípio somente de férias, o Orlando pôde retornar a Portugal em 1991 para fazer um estágio de um ano na Cinemateca Portuguesa. No seu segundo regresso prolongado a Cabo Verde, o Orlando passou a residir com a nossa mãe na sua casa da Assomada, até embarcar para os Estados Unidos da América onde depois de um relativo sucesso na sua integração laboral e social veio a adoecer e a falecer. Com a morte desses nossos entes queridos muito próximos, pensámos que já tínhamos tido a dose suficiente de sofrimento…
Mas muito enganados estávamos nós, como mais à frente se verá…
10. Durante a minha prolongada estadia em Portugal, o Benny passou algumas vezes por Lisboa, ou para assistir às reuniões do Congresso dos Quadros Cabo-Verdianos na Diáspora de que era um dos delegados pela Itália, ou em outro serviço ou ainda em trânsito de ou para Cabo Verde. Por sua vez, o Nhonhô passava em Lisboa de férias quase todos os anos ou em trânsito para outros países como os Estados Unidos da América, a França ou a Itália ou vinha em trânsito de outros países. Numa dessas vezes veio acompanhado da mãe Júlia e da esposa Maísa,. Imagine-se a minha alegria por reencontrar a mamã depois de alguns anos sem a ver! Diga-se todavia que eu falava todas as semanas com ela, bem assim com o David, com o Nhonhô e, depois, com o Benny, não só para saber da família, mas também para obter informações frescas de Cabo Verde para a minha participação no programa Debate Africano, da RDP-África, pelos vistos muito ouvido e tido em alta consideração em Cabo Verde.
Nos últimos tempos da sua vida e graças às facilidades proporcionadas pelo messenger e pelo whatsapp falávamos praticamente todos os dias e durante horas a fio, ocorrendo o mesmo quando se encontrava em tratamento nos Estados Unidos da América e em condições físicas e psicológicas de comunicar comigo. Durante todo o tempo do seu tratamento nos Estados Unidos da América o Nhonhô foui impcavelmente apoiado pela sobrinha Krishna e durante o seu primeiro tratamento também pelas nosssas irmãs Lurdes e Tuginha que na altura se encontravam nessse país.
11.Durante as suas estadias em Lisboa e em que não estava na companhia dos familiares mais próximos, eu acompanhava, sempre impaciente, as demoradas deambulações do Nhonhô pelos centros comerciais e pelas suas lojas, com destaque para a FNAC e as lojas de produtos arquitectónicos, e pelos restaurantes e discotecas caboverdianas, com destaque para o restaurante da ACV, a Casa da Morna, onde me lembro de uma vez ele ter cantado a convite do Danny Silva, o B. Leza, onde era sempre convidado a cantar e, ultimamente, o Café de la Musique, do Carlos Jorge Vasconcelos que sempre que o Nhonhô por lá passava o convidava para cantar juntamente com o músico residente e seu amigo Zezé Barbosa.
12. Mesmo doente, o Nhonhô ficou deveras indignado e furioso, quando a Secretária-Geral do MpD apresentou uma queixa à ERC portuguesa a exigir a minha saída do programa, alegando falta de imparcialidade da minha parte npos comentários às eleições legislativas acabadas de acontecer, o que constituía uma mentira absolutamente clamorosa. O mesmo tinha acontecido anos antes com uma queixa semelhante apresentada à RDP-África pela mandatária para Portugal da candidatura presidencial de Carlos Veiga, tendo merecido essa queixa uma contundente e demolidora resposta do Dirctor da RDP-África, Jorge Gonçalves. Desta feita todavia a Direccão da RDP-África e o novo moderador do programa Debate Africano, João Pereira Silva, viriam a fazer a vontade ao MpD e aos seus talibãs de serviço ao dispensar-nos, a mim, de Cabo Verde, ao mais velho Adolfo Maria, de Angola, e ao ponderado e pedagogo Eduardo Fernandes, da Guiné-Bissau, alegando necessidade de remodelação do mesmo programa, mas mantendo os antigos colegas Abílio Neto, de São Tomé e Príncipe, e Sheila Khan, de Moçambique, a que se juntou o bissau-guineense Tony Tcheka. Assim, deste modo inusitado e, pela primeira vez, Angola e Cabo Verde ficaram sem voz no programa Debate Africano da RDP-África.
Uma outra vez o Nhonhô acompanhou a esposa, Maísa Marília Salazar Antunes ( assim por dito extenso como o Nhonhô gostava de pronunciar e degustar o nome da querida esposa) para terem a filha primogénita Nhara Santiago no Hospital da Luz de Lisboa. Uma outra vez ainda foi a Maísa que acompanhou o Nhonhô que teve um ataque cardíaco devido a um quisto, felizmente benigno, alojado no cérebro.
13. O diagnóstico do cancro só viria anos depois já a filha primogénita do Nhonhô, Nhara Santiago, já estava em Lisboa a frequentar os estudos universitários de Direito, tendo a caçula Frederika Santa Maria começado os estudos universitários pouco tempo antes do agravamento e do desfecho fatal da doença que tiraria o Nhonhô do nosso convívio.
Esse famigerado diagnóstico ocorreu na última vez que nos encontrámos em Portugal, tinha o Nhonhô vindo de uma visita aos filhos do tio Mano na Alemanha, tendo também passado pela Suiça. A sua passagem por Portugal visava também fazer um check-up completo do seu estado de saúde visto estar visivel e preocupantemente emagrecido. Nessa altura, foi a a filha Nhara que o acompanhou o Nhonhô no hotel, nas sua visitas médicas e o apoiou na satisfação de outras prementes necessidades. Foi nessa altura que os médicos especialistas portugueses diagnosticaram a doença do Nhonhô e lhe disseram que teria somente alguns meses de vida. Com esse fatal diagnóstico, Doi nessas por demais dramáticas circunstâncias que o Nhonhô obrigou-se a buscar desesperadamente outras paragens para a almejada solução do seu candente problema de vida ou de morte, ele que tanto gostava de viver e de usufruir do milagre da vida e do conforto que os resultados do seu trabalho lhe proporcionavam. De todo o modo, a sua ida aos Estados Unidos da América para tratamento suscitou tantas esperanças de cura que foi com imensa alegria que postou e exibiu na sua página do facebook um diploma de mérito que os médicos norte-americanos lhe concederam quando lhe deram alta, com o fito expresso de regressar meses depois para os necessários controles e a continuação do tratamento. Querendo expressar o seu profundo reconhecimento aos médicos oncológicos norte-americanos escreveu a letra da canção “Sobriviventi” que, na altura, me enviou para dar a minha opinião, a qual foi entusiasticamente positiva, tendo essa mesma letra sido depois musicada por Maruka Tavares.
E foi aí que estalou a pandemia da Covid-19 para estragar tudo e desfazer as esperanças de sobrevivência do Nhonhô, infelizmente tornadas cada vez mais ténues.
Impossibiltado de regressar aos Estados Unidos da América durante a pandemia da Covid-19, foi um Nhonhô já muito debilitado que pisou pela última vez o chão da cidade de Boston. Expirado o visto de estadia temporária nos Estados Unidos da América, teve de regressar a Cabo Verde, no fundo almejando dar o último suspiro na sua amada terra natal. Os últimos meses da sua vida forma uma verdadeira corrida contra o tempo para ultimar e lançar o seu mais recente legado musical, o cd Sobriviventi.
O VALIOSO LEGADO DE FREDERICO HOPFFER CORDEIRO ALMADA/NHONHÔ HOPFFER
14. O activismo cívico foi igualmente uma importante vertente das actividades sociais do Nhonhô. Frequentador assíduo de sessões de lançamento de livros, de exposições de artes plásticas, de espectáculos e shows musicais e de outros actos culturais similares, conversador nato e curioso sobre as mais variadas questões relacionadas com as diferentes vertentes da vida quotidiana e do destino histórico dos caboverdianos, o Nhonhô comprometeu-se activamente em várias organizações cívicas, das quais destacamos: 1) A Associacão Rotary de Cabo Verde de cuja Direcção foi Presidente; 2) A Ordem dos Arquitectos de Cabo Verde de que foi Presidente da Assembleia-Geral e Vice-Bastonário em várias Direcções, sendo inúmeras as suas tomadas de posição críticas em relação ao ordenamento e ao caos urbanístico prevalecente nas cidades de Cabo Verde, com destaque para a sua amada cidade da Praia, que todavia considerava a mais bela ou, pelo menos, potencialmente a mais bela de Cabo Verde e cujo platô considerava um verdadeiro tesouro arquitectónico e patrimonial nacional; 3) A Associação de Defesa da Ilha de Santiago de que foi um dos fundadores, dirigentes e um dos mais vistosos e desassombrados activistas; 4) a Associação Pró-Praia de que foi igualmente um dos fundadores, dirigentes e um dos mais proeminentes activistas; 5) A Associacão de Arquitectos de Língua Portuguesa surgida no rescaldo da fundacão da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) de cujo Conselho Directivo foi Presidente e o qual organizou vários Encontros Internacionais, um dos quais na cidade da Praia, e durante os quais treve a oportunidade conhecer e conviver com arquitectos de renomre internacional com o Óscar Niemayer e Álvaro Siza Vieira.
Nos últimos anos da sua vida, e já doente, o Nhonhô foi um activista muito presente nas redes sociais, designadamente no facebook, em defesa da oficializacão plena da língua materna caboverdiana, da sua ilha de Santiago, do seu concelho de Santa Catarina, da sua cidade adoptiva da Praia, bem como da figura histórica única de Amílcar Cabral. Nessas empreitadas cívicas o Nhonhô evidenciava-se pelo seu dessassombro desarmante e pela sua franqueza total que por vezes chocavam os mais cínicos e hipócritas ou, dito de forma mais eufemística,os mais comedidos na exposicão dessas candentes e sensíveis matérias.
15. O cidadão Frederico Hopffer Almada foi um dos mais destacados arquitectos caboverdianos dos tempos contremporâneos. Fadado desde a infância para a profissão que se tornou a sua fonte de rendimento e a sua profissão primeira, nos termos de uma nota biográfica escrita pelo seu vizinho e amigo, o sociólogo e etno-musicólogo César Monteiro, começou por trabalhar no GAPRO, um Gabinete de Arquitectura adstrito ao Ministério do Urbanismo e das Obras Públicas de Cabo Verde, logo depois do seu regresso dos estudos, tendo sido seu Director. Optando pela via privada nos anos noventa do século XX, funda a AtelierA-Gabinete de Arquitectura e Engenharia. Foi arquitecto de várias obras emblemáticas espalhadas pelo país, com destaque para o actual Edifício da Câmara Municipal de Santa Catarina (remodelado e alargado para um edifício de dois pisos a partir do piso inicial), o Palácio da Justiça de Santa Catarina, o Edifício dos Correios de Santa Catarina, o Estádio Municipal da Achada Lém, também no concelho de Santa Catarina, o Palácio da Comunidades (sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde), o Edifício da Caixa Económica de Cabo Verde, o Edifício do Banco Comercial do Atlântico, o Edifício dos Paços do Concelho do Sal, localizado nos Espargos, etc, etc.
16. O seu amor pela música era tão fervoroso como o seu amor pela profissão que abraçou e escolheu praticar como “paixão e ganha-pão”, tendo em ambas as áreas deixado um legado notável e, por vezes, inestimável.
Participante de tocatinas e serenatas em tertúlias de amigos na Assomada, na Praia e em outras ocasiões, como já referido ainda durante o tempo colonial, o Nhonhô fez-se cantor enquanto estudante em Bucareste, capital da Roménia, onde integrou um grupo musical constituído por caboverdianos e guineenses e denominado Cunhefe Sadibé e que actuava essencialmente nas comemorações do Dia de África e no prestigiado Clube de Arquitectos, vindo desses tempos a sua interpretacão das composicões da autoria do seu amigo Nhelas Spencer, mas também de músicas de Bob Marley e de outras estrelas do reggae.
Regressado ao país, continuou a participar em tertúlias musicais e em eventos de cada vez maior envergadura, como alguns festivais musicais, tais o Festival Musical de Santa Catarina de 1989, de que foi cabeça de cartaz, o Festival Musical da Gamboa, o 1º Festival Musical de Santa Maria de 1990 na ilha do Sal, o Festival Beach Rotcha da ilha do Maio, a Gala de Encerramento do Primeiro Encontro de Música Nacional no Palácio da Assembleia Nacional Popular, tendo ainda esporádicas actuações e aparições na Rádio e na Televisão.
O grande salto seria dado com a gravação em 2007 do seu primeiro álbum intitulado Nhara Santiago, em homenagem à sua tão amada e adorada filha primogénita e à sua ilha natal de Santiago e gravado sob a batuta de Quim Alves, um dos maiores multi-intrumentistas, orquestradores e arranjadores da música caboverdiana contemporânea, tendo esse primeiro CD de Nhonhô Hopffer sido unanimemente considerado um grande sucesso musical, não só devido ao repertório escolhido, integrante de antigos e novos grandes compositores da música caboverdiana, como B. Leza, Sema Lópi, Nhelas Spencer ou Mário Lucio Sousa, mas também à qualidade da interpretacão, não só instrumental, mas também vocal de Nhonhô Hopffer, dono e senhor de um timbre assaz grave, singular e inconfunfível.
O segundo álbum intitulado Frederika de Santa Maria, de 2018 e em homenagem à segunda e também adorada filha (a filha codé, como dizia) e à sua cidade adoptiva da Praia de SAanta Maria da Esperança e da Vitória, bem como à amada mãe Júlia, aos amados irmãos Orlando e Benny e à sua estimada sogra Milú Salazar ((Maria de Lourdes Pereira Antunes da Silva), todos entretanto falecidos, veio confirmar por inteiro a grande qualidade vocal de Nhonhô Hopffer aliada à mestria da instrumentação e da interpretacão, sempre sob a batuta de Quim Alves, e a um rigoroso labor de escolha das músicas integrantes do álbum, compostas igualmente por antigos e novos grandes nomes do reportório musical naciona (destacando-se entre os novos compositores o maiense Georges Tavares Silva que, aliás, me deu a honra de musicar o meu poema “Sakedu na nha Dor”, de evocacão da morte da mãe Júlia). A sua performance pública consubstanciou-se pela última vez na participação, a par de outros tantos relevantes intérpretes musicais de ambos os sexos, no álbum Alma, com letras do seu amigo José Maria Pereira Neves e música de Kako Alves.
O terceiro álbum, já pronto e intitulado Sobriviventi (do nome de uma composição cuja letra é da autoria do próprio Nhonhô, que assim se estreia nesse domínio, com música de Maruka Tavares), de homenagem a Katxás e ao então recentemente falecido Antero Simas e porque marcado pela esperança, quase imorredoura nele, de superar a doenca maligna que o vinha acossando e atormentando há já alguns anos, não pôde todavia ser ultimado em vida dele e dado a conhecer à legião dos seus muitos fãs em forma de CD, porque a morte antecipando-se, sorrateira ou traiçoeiramente, levou finalmente a melhor quando o fez partir para o mundo do nunca mais a 31 de dezembro de 2022. Levou a melhor todavia e somente no sentido em que a morte física das criaturas humanas é consabidamente a condição sine qua non da sua ressurreição, como acreditam os crentes, ou da sua permanência na rememoração das pessoas e da sua perenidade na memória dos tempos e, assim libertados da morte, como diria o grande Luiz Vaz de Camões e deste modo estatuídos em Mortos Imortais de que o Maior é certamente Amílcar Cabral, o eterno, icónico e incomensurável Herói de Nhonhô Hopffer e cujo Centenário Natalício certamente saudaria com o máximo de entusiasmo e de alegria.
Porque certamente que também ele, o ora homenageado, na sua dupla condicão de Nhonhô Hopffer e de Frederico Hopffer Cordeiro Almada, no seu duplo estatuto de intérprete musical e de arquitecto, na sua dupla fisionomia de portador de um nominho e de um nome de igreja (ou, se se quiser, de um nome de casa e de um nome oficial de registo civil), na sua dupla qualidade de santa-catarinense/ santiagiuense e de caboverdiano cidadão do mundo é plenamente merecedor da estatuição para a eternidade da memória da sua vida e da sua obra em nomes de ruas, de escolas, de edifícios públicos e privados e de outros lugares similares em razão do seu notável legado consubstanciado nas obras que deixou nos domínios da arquitectura e da música, mas também do exemplo que legou como personalidade desassombrada e bastas vezes politicamente incorrecta, mas sempre social e políticamente comprometida com as causas do seu concelho, da sua ilha, do seu país, do seu continente e da Humanidade em geral, e de sujeito activo da sociedade civil caboverdiana engajado até à medula com as componentes essenciais da identidade afro-crioula de Cabo Verde e dos Caboverdianos e da sua expressão e símbolo maiores e imprescristíveis que são a língua materna caboverdiana devidamente desenhada e configurada, como ele tanto prezava, no ALUPEC. Certamente que o Nhonhô ficou sumamente feliz com a fundação dsa ALMA-CV (Associação da Língua Materna Cabo-Verdiana) em Novembro de 2022, pouco antes do seu falecimento.
Felizmente que em vida recebeu das suas gentes um notório reconhecimento pela vasta obra feita.
Felizmente que em vida dele algumas entidades públicas e privadas ainda tiveram a sensatez e o o discernimento de o reconhecerem como um dos mais importantes homens da cultura caboverdiana contemporânea. Foi o que ocorreu com a Festa de Homenagem que lhe foi prestada nos Estados Unidos da América pelo jornalista Valdir Alves, também falecido ainda antes do Nhonhô, e pela comunidade caboverdiana de Boston bem assim com a homenagem que lhe foi feita pelo restaurante Nice Crioula e a atribuição da Medalha de Mérito Cultural de Primeira Classe do Governo da República de Cabo Verde proposta pelo Ministro da Cultura e Indústrias Criativas, Abraão Barbosa Vicente, e entregue pessoalmente ao notoriamente comovido e feliz agraciado pelo Primeiro-Ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva.
17. Frederico Hopffer Cordeiro Almada/Nhonhô Hopffer nasceu a 18 de Maio de 1956, no sítio de Quelém/Pombal, na zona de Chã de Tanque, na freguesia e no concelho de Santa Catarina de Santiago, num ano em que também viram a luz do dia dois emblemáticos músicos caboverdianos, quais sejam Vasco Martins e Norberto Tavares. O acaso e a sorte ditaram que fosse o Frederico Hopffer Almada/Nhonhó Hopffer o autor da lápide que encima a sepultura no cemitério de Nhagar desse icónico e majestoso músico santa-catarinense e que ele tanto admirava e respeitava e que é Norberto Tavares, tendo-o por isso convidado para um convívio cultural na sua vivenda da Terra Branca aquando do regresso apoteótico a Cabo Verde do autor de “Nha Cabo Verde di Sperança” e de “Jornada di um Badio”, depois de dezenas de anos de ausência sem regresso em Portugal e nos Estados Unidos da América, e efusiva e entusiasticamente acompanhado por multidões nunca dantes vistas em Cabo Verde.
Frederico Hopffer Cordeiro Almada/Nhonhô Hopffer morreu a 31 de Dezembro de 2022, rodeado de familiares, e está enterrrado no cemitério de Nhagar na Assomada, no seu concelho e na sua freguesia natais de Santa Catarina da ilha de Santiago de Cabo Verde, ao lado dos amados pais Júlia e António, dos também amados irmãos Orlando e Benny e de outros familiares próximos. A sua morte sobreveio depois de se ter gorado uma última tentativa de viagem para os Estados Unidos da América, onde lhe era habitualmente ministrado o tratamento devido e adequado e que lhe suscitara tantas esperanças na vitórias sobre a doença maligna, em razão do elevado risco que representava essa mesma viagem, num ano marcado pela recente e mortífera disseminação da covid-19 e pelo falecimento de alguns muito importantes nomes da cultura caboverdiana, como Kaká Barboza (isto é, Carlos Alberto Lopes Barbosa), Kaoberdiano Dambará (isto é, Felisberto Vieira Lopes), Antero Simas, Celina Pereira, Titina Rodrigues e tantos outros…
A Assembleia Nacional de Cabo Verde aprovou o voto de pesar nº 25/X/2023, por ocasião do falecimento de Frederico Hopffer Cordeiro Almada/Nhonhô Hopffer.
Que as gentes das nossas ribeiras, das nossas ilhas e das nossas diásporas continuem a guardá-los a todos na sua memória colectiva e que continuem a inspirar-nos nessa jornada caboverdiana, sempre infinda de “construção de uma outra terra dentro da nossa terra” para nos sentirmos smpre e para sempre “felizes de termos nascido caboverdianos”, como compôs Manuel de Novas e cantou Ildo Lobo, ambos dsa especial afeccão e da particular predilecção de Frederico GHopffer Cordeiro Almada, o nosso saudoso parente próximo Nhonhô Hopffer, digno descendente das gentes Furtado e de Cova Furtado…
Lisboa/Queluz, Monte Abraão, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 de Abril de 2024