MAIS UMA JOVEM QUE É FORÇADA A EMIGRAR
SOURCE: [Santiago Magazine]
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MAIS UMA JOVEM QUE É FORÇADA A EMIGRAR
Os dirigentes partidários e das instituições cada vez mais criam conflitos e estes tomaram conta de todos os lugares, e a crise vai acentuando e promove o medíocre e o mesquinho, consagra as ideias estreitas e as inteligências baças e resta aos outros, aos competentes, aos rigorosos, aos de boa vontade EMIGRAREM.
“Querer ficar, mas ter que partir ...”
Mais uma jovem que é forçada a emigrar, à procura do que lhe foi negado, sistemática e veementemente, na sua terra.
No dia 21 de Abril, pelas 5 horas, numa sexta-feira do ano da graça de 2023, eu e a minha esposa encontrávamos no aeroporto de São Vicente para nos despedirmos da nossa filha mais nova, Andreia Francisca Fortes Pires Monteiro, que ia embarcar rumo a Portugal e depois para a Holanda, a fim de se aventurar e conseguir emprego que lhe vem sendo negado há SEIS ANOS, na sua terra, após ter concluído a licenciatura em Gestão, em Junho de 2017, no Instituto Superior de Ciências Económicas e Empresariais (ISCEE) – Pólo de Mindelo.
Com enorme indignação, imensa saudade e alguma tristeza, vi a minha filha partir para a Europa em busca daquilo que, perfeitamente, poderia ser-lhe facultado na sua terra natal, mas infelizmente, o compadrio, o clientelismo, a partidarização de quase tudo, o nepotismo que reservou o emprego para os familiares, os amigos, “the boys” e “the girls” do partido do poder, impediram que a minha filha pudesse dar o seu contributo ao desenvolvimento do seu país e empurraram-na para o desconhecido.
Participou num concurso documental na Administração Pública, ficou classificada nos lugares cimeiros (3º lugar) em função das notas obtidas em todas as disciplinas do curso de Gestão, ter uma classificação final de 16 (dezasseis) valores e também ter alcançado boa performance nos critérios exigidos no concurso, que lhe proporcionaria um lugar de ESTAGIÁRIA, no entanto, no fim recebeu uma resposta inusitada: «não foi admitida porque havia candidatos com mais tempo à procura de emprego, por conseguinte tinham prioridade».
Após a Andreia ter concluído a sua licenciatura em Gestão, inscreveu na plataforma do IEFP para os devidos efeitos e iniciou uma longa, desgastante, desmotivante e humilhante caminhada a «mendigar» um emprego, tanto na Administração Pública como em empresas privadas em São Vicente, Santo Antão e Sal durante 6 (seis) anos… e NADA… não obstante estar inscrita na plataforma do IEFP. Que situação mais humilhante e frustrante para uma jovem que tinha concluído a sua licenciatura aos 22 (vinte e dois) anos e almejava ter um emprego e viver a sua vida no país que lhe viu nascer!
Mas essa situação de humilhação que a minha filha Andreia foi votada, tem contornos de índole política porque eu, Jorge Eduardo Pires Monteiro, o pai, é conotado como um opositor ao regime instituído e próximo do PAICV, apesar de nunca ter sido militante de qualquer partido, e demonstrar uma atitude independente, porque não me revejo nesta política que se faz em Cabo Verde e, por cá, quem não alinha num determinado partido é logo conotado com outro («política de panelinha: se não és por mim, és contra mim»). E por causa da minha forma de ser e de estar, pois assumo pela minha personalidade, pela frontalidade que me caracteriza e pelo meu espírito destemido, em que não mando recados por ninguém, digo o que me vai na alma sem rodeios e sempre de uma forma consciente, sem posteriores arrependimentos, os partidos não gostam de mim desde os meus tempos de estudante no Liceu Domingos Ramos na Praia quando concluí o ensino secundário no ano lectivo de 1982/83.
Sou vítima do revanchismo, da crueldade de um sistema em que os cidadãos têm que ser sempre «um sim senhor» (ou «um yes man»), um bajulador, um intriguista para se dar bem na vida, e por NUNCA ter sido «um sim senhor» ou um bajulador, fui impedido de obter uma bolsa de estudos, de ter sido considerado «reaccionário» por criticar delegados do Governo e secretários do PAICV no Concelho da Ribeira Grande (por isso fui prestar declarações várias vezes na esquadra da Polícia de Ordem Pública em 1983, 1984 e 1985) e também já em pleno «pluripartidarismo» (???!!!) em 1992 fui desterrado (transferência compulsiva) para o Tarrafal no âmbito «da caça às bruxas» que o MpD desencadeou na década de 1990 (de 1991 a 2000) contra aqueles que não comungavam com a sua cartilha (fui considerado «subversivo» por não ter aceitado o convite para integrar o MpD e insultado, vilipendiado e ameaçado de morte numa pichagem nas paredes da casa onde morava na Ponta do Sol).
E por causa do pai, da sua postura independente, sem compromissos político-partidários, desde sempre, a filha é literalmente PENALIZADA e OBRIGADA A EMIGRAR à busca de um futuro melhor. Assim, é mais uma jovem que partiu «para terra longe» por ser-lhe negado um direito constitucionalmente consagrado, mas que é reservado aos que militam, aos que fazem campanha eleitoral, aos que bajulam, aos que vigiam os cidadãos ditos incómodos, cumprindo assim um VERGONHOSO ESQUEMA bem montado que favorece apenas os sintonizados com o partido que está no poder. E esse sistema funciona ainda melhor quando o MpD governa o país, pois o seu modus operandi vem desde 1991 quando ganhou as eleições e provocou um tsunami ao transferir compulsivamente funcionários, ao desempregar funcionários e ao substituir quase todos os responsáveis dos serviços, numa atitude violenta, com actos desumanos e com gente execrável a comandar, como se tivesse executado um GOLPE DE ESTADO em vez de ter ganho umas eleições. E desde 2016 quando retornou ao poder executou os mesmos actos de vingança e de perseguição política.
E nesta efervescência é apanhada a minha filha Andreia que calcorreou quilómetros à procura de um emprego que lhe foi negado, mesmo participando em concurso e conseguido boa classificação que lhe garantia um lugar.
Em Cabo Verde para se atingir o topo não basta a categoria e a honestidade, porque há muito compadrio e muito nepotismo, há quem esteja a trabalhar com grandes condições em lugares cimeiros e nunca tendo mostrado nada para lá chegar e há quem tenha subido alto sem nunca ter apresentado resultados. O que é preciso, neste país, é frequentar determinadas tertúlias, cafés, boîtes, hotéis e quem não alinhar por este diapasão não conseguirá um emprego para sobreviver.
Desde que chegou ao poder, alguns responsáveis do MpD têm feito tudo para funcionar segundo uma lógica de bloqueio, confundindo-o com exclusividade, porque esforçam-se por impedir que os outros exerçam o direito ao emprego, à formação, à informação e ao desenvolvimento de todas as suas capacidades, impedindo a presença dos mesmos (outros) em todos os sectores.
Em qualquer país sério, consolidadamente democrático, ao contrário do que sucede com Cabo Verde que está atolado num pântano caciquista, as pessoas que ocupam cargos que exigem personalidades acima de quaisquer suspeitas não hesitam em demitir-se quando a nódoa da mais pequena dúvida cai sobre o pano imaculado da sua honestidade, mas infelizmente, sabemos que a nossa sociedade é mesquinha, há a tendência para encolher os ombros e esquecer e ignorar, até as próprias culpas, por isso vivemos no preciso centro de toda a impunidade. Não há responsáveis, os inquéritos arquivam-se com conclusões inconclusivas após exaustivas auditorias em que investigadores e investigados se confundem numa perigosa promiscuidade, a mecânica dos controlos é lassa e permissiva, a difamação e as intrigas substituem o decorrer natural dos processos que deveriam conduzir ao afastamento obrigatório dos menos capazes, dos mais sujeitos à corrupção, e até as carreiras profissionais constroem-se e destroem-se à custa de infâmias e ameaças veladas.
Vivemos num país que se diz civilizado, mas que tem muito pouco de civilizado, pois já ultrapassamos os países originais na trapaça política, na administração de influências, na imposição de um clientelismo de favores e estamos nos lugares cimeiros da ausência de estratégia de combate ao desemprego e na ausência de respeito e até de interesse pelos débeis mecanismos de controlo das irregularidades e das ilegalidades, e é isso que divide Cabo Verde do mundo «democrático e civilizado».
Os dirigentes partidários e das instituições cada vez mais criam conflitos e estes tomaram conta de todos os lugares, e a crise vai acentuando e promove o medíocre e o mesquinho, consagra as ideias estreitas e as inteligências baças e resta aos outros, aos competentes, aos rigorosos, aos de boa vontade EMIGRAREM.
Porto Novo, 21 de Abril de 2024.